A Austrália anunciou hoje o encerramento temporário da sua embaixada, o que entrará em vigor no final da semana, quando várias outras embaixadas na capital afegã enviaram para casa o pessoal não essencial, ao mesmo tempo que aconselham os seus cidadãos a não viajarem para o Afeganistão, imitando a embaixada dos EUA, que no mês passado enviou para casa os seus trabalhadores não essenciais.
O último dos 2.500 a 3.500 soldados norte-americanos e 7.000 soldados aliados da NATO terá partido em 11 de setembro próximo, provocando o receio de que as suas saídas possam aumentar o caos e a insegurança que já assola a capital.
Nos últimos meses, ataques violentos, muitos deles não reclamados, têm como alvo jornalistas e, em muitos casos, a minoria muçulmana xiita do país, com os EUA a atribuírem esses ataques a grupos sob a alçada do Estado Islâmico (EI).
As embaixadas na capital afegã estão localizadas na chamada "zona verde", considerada a mais protegida, com muros gigantescos, arame farpado e portões de aço.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros afegão disse hoje, num comunicado, que se compromete a fornecer segurança às embaixadas, mas há uma preocupação generalizada sobre a capacidade de o Governo de Cabul fornecer essa proteção numa cidade dominada por gangues de criminosos.
Dave Sharma, responsável governamental australiano, considera que as razões para o encerramento da embaixada estão "relacionadas com a capacidade de proteção" dos funcionários.
A Austrália ainda tem 80 soldados no país, mas, no pico de atividade, havia 15.000 soldados australianos destacados no Afeganistão.
Alguns militares australianos estão envolvidos em alegações de crimes de guerra no Afeganistão e, por isso, a Austrália criou uma agência de investigação para levantar processos criminais contra forças especiais suspeitas de ilegalidades entre 2005 e 2016.
Obaidullah Baheer, um analista político em Cabul, criticou a decisão da Austrália de encerrar os seus serviços diplomáticos e a de outras embaixadas de reduzirem o seu pessoal, explicando que isso mina a fé na capacidade de o Governo afegão fornecer segurança.
"Estes gestos serão vistos como um sinal da falta de confiança do Governo australiano na capacidade de as autoridades afegãs se defenderem do movimento talibã", concluiu Baheer.
O porta-voz político dos talibãs, Suhail Shaheen, considera que é exagerado o receio das diplomacias estrangeiras, que "não devem ter qualquer preocupação" com a segurança em Cabul.
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