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Maio foi pior mês da pandemia em Timor-Leste, com 80% das mortes

Maio foi o pior mês da pandemia de covid-19 em Timor-Leste, com 80% das mortes de pessoas infetadas e quase 65% do total de casos acumulados desde março de 2020, segundo uma análise da Lusa.

Maio foi pior mês da pandemia em Timor-Leste, com 80% das mortes
Notícias ao Minuto

06:23 - 28/05/21 por Lusa

Mundo Covid-19

A análise dos dados do Centro Integrado de Gestão de Crise (CIGC) mostra que a situação do país esteve relativamente controlada até final de fevereiro, com um crescimento exponencial de casos desde aí, especialmente na capital.

Responsáveis do CIGC estimaram que, dadas as elevadas taxas de incidência, acima dos 40 casos por 100 mil habitantes, nas últimas semanas, o número real de infetados em Díli pode ser muito maior, com mais de 50 mil pessoas infetadas.

Com a transmissão comunitária a espalhar-se, este mês registaram-se os piores dados de sempre, tendo o país acumulado só entre 1 e 27 de maio um total de 4.183 casos (quase 65% de todos os registados desde o início da pandemia), e somado mais 12 mortes, 80% do total.

O número de casos ativos cresceu significativamente -- há atualmente 2.727 -- e as hospitalizações também, com mais casos críticos, graves e moderados no centro de isolamento de Vera Cruz.

A par da pandemia, o país continua a enfrentar uma grave situação socioeconómica, com uma crise que continua a aprofundar-se e cada vez mais queixas sobre a aplicação das medidas de combate à doença, nomeadamente o confinamento obrigatório em Díli.

Contestação que hoje se voltou a ouvir no Parlamento Nacional, no debate sobre uma nova renovação do estado de emergência -- o 14ª período de 30 dias de estado de exceção desde março de 2020 -, com deputados a criticarem o Governo por não fazer cumprir as medidas que decreta, incluindo em programas ou instituições do próprio Estado.

Os deputados alertaram para a aplicação irregular e polémica das medidas em vigor, com as autoridades a atuarem em alguns casos -- incluindo com abuso de poder e agressões --, mas ignorando outros, como lojas não essenciais abertas ou que não cumpram os critérios de funcionamento.

A situação dos últimos meses contrasta com a que o país viveu no primeiro ano da pandemia, com sucessivos estados de emergência, fortes restrições nas entradas no país, especialmente por via aérea, e gestão apertada de quarentena e isolamento.

Entre março de 2020 e final de fevereiro de 2021, o país registou apenas um total de 113 casos positivos, com 23 casos ativos em 28 de fevereiro e ainda sem casos de hospitalização ou morte.

A preocupação até final de fevereiro, e especialmente desde dezembro de 2020, continuava focada nas zonas fronteiriças, com os sistemas de quarentena a permitirem detetar todos os casos, mas com crescente risco de travessias irregulares na fronteira.

Mas a situação mudaria em março, com o país a registar nos últimos três meses mais de 98% de todos os casos positivos detetados até agora.

A deteção quase fortuita de um caso de uma mulher infetada que tinha viajado de Díli para Baucau, no início de março, levou a um crescente processo de rastreio de contactos na capital, detetando um número cada vez maior de infeções, em bairros e em várias instituições.

O número de casos registados em março (491) foi cinco vezes maior do que ao longo de todo o ano anterior, com o país a chegar ao final desse mês com 604 ativos, já com algumas hospitalizações, de casos moderados, mas ainda sem registar mortes.

A situação tornaria a agravar-se em abril, com o número de novos casos a mais que triplicar -- no final do mês, havia 1.672 casos acumulados -- e o registo das primeiras três mortes, além do aumento de hospitalizações de casos graves e moderados e casos ativos já em praticamente todo o país.

Foi neste momento de grande pressão sobre os recursos de saúde do país que a situação se agravou, com as cheias no início de abril, que causaram 41 mortos e desaparecidos e afetaram dezenas de milhares de famílias, a obrigarem a levantar o confinamento obrigatório durante quase um mês.

A movimentação da população da capital retomou uma quase normalidade que não se via há vários meses, as situações de aglomerações de pessoas cresceram e os efeitos notaram-se no aumento de casos.

Em paralelo, cresceu também a desconfiança e o negacionismo, com polémicas sobre as causas de morte de pessoas identificadas como estando infetadas com covid-19 e o elevado número de casos assintomáticos.

A situação chegou ao máximo da polémica em meados de abril, quando Xanana Gusmão liderou um protesto em frente ao centro de isolamento de Vera Cruz, ao lado de uma família que contestava o protocolo de funerais para pessoas infetadas com o SARS-CoV-2, aplicado até então pelas autoridades timorenses.

O Governo acabaria por recuar, ao fim de vários dias de protestos e grande aglomerações, mas o incidente acabou por ter efeitos na perceção de muitos sobre a doença.

Leia Também: Timor-Leste regista mais 231 casos e Díli novo máximo diário

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