"Todos os vídeos deste género são filmados sob coação. Nem se deve prestar atenção às palavras, porque estão a ser ditas após tortura (...). A missão dos presos políticos é sobreviver", afirmou Svetlana Tikhanovskaia em declarações aos jornalistas na capital da Polónia, Varsóvia, no âmbito de uma visita ao país.
"Com a ajuda da violência, pode-se colocar uma pessoa a dizer o que se quiser", prosseguiu Tikhanovskaia, que procurou exílio na Lituânia após ter concorrido contra o Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, nas eleições presidenciais de agosto de 2020, escrutínio que seria denunciado pela oposição como fraudulento após a recondução do líder bielorrusso, no poder há mais de duas décadas, e que iria gerar uma vaga de contestação sem precedentes naquela antiga república soviética.
Em declarações à agência norte-americana Associated Press (AP), a porta-voz da líder da oposição, Anna Krasulina, descreveu, por sua vez, Protasevich como um "refém" e admitiu que, a par da "pressão física e psicológica", o jornalista terá dado a entrevista "possivelmente sob efeito de drogas".
"Exigimos a libertação imediata de Roman, que está a ser usado pelo regime como um brinquedo e um instrumento para chantagear as forças democráticas da Bielorrússia", reforçou a porta-voz de Svetlana Tikhanovskaia.
Na quinta-feira, a televisão estatal bielorrussa ONT transmitiu uma entrevista a Roman Protasevich, na qual o jornalista e opositor se confessa culpado das acusações apresentadas contra ele pelo regime de Minsk e afirma que quer corrigir os erros.
Protasevich foi preso em 23 de maio depois de as autoridades bielorrussas terem forçado o desvio para o aeroporto de Minsk de um voo da companhia aérea irlandesa Ryanair, que fazia a rota Atenas-Vilnius.
No avião comercial, viajava o jornalista com a sua companheira, Sofia Sapega.
Os dois foram detidos, após a aterragem na capital bielorrussa.
Na entrevista, o antigo editor da NEXTA (meio de comunicação de oposição ao regime), que teve um papel importante na contestação contra Lukashenko, admitiu ser culpado da organização de ações contra as autoridades, de ter organizado os protestos que ocorreram no país após as eleições de agosto e disse mesmo que reconhecia "abertamente" que foi uma das pessoas que divulgou apelos para que a população fosse para as ruas protestar.
Nas imagens transmitidas, o jornalista, assumiu, visivelmente desconfortável, que tinha apelado aos protestos contra o regime e afirmou o seu respeito pelo Presidente Lukashenko.
O jornalista, de 26 anos, disse ainda que quer corrigir os seus erros e levar uma vida tranquila, longe da política.
No fim da entrevista de uma hora e meia, Protasevich começa a chorar e cobre o rosto com as mãos.
No mesmo dia da divulgação da entrevista, ativistas dos direitos humanos e a própria família do jornalista afirmaram que as declarações de Roman Protasevich tinham sido obtidas sob "abusos, tortura e ameaças".
Alexander Lukashenko enfrentou inéditas manifestações em massa após a sua reeleição para um quinto mandato em agosto de 2020, com 80% dos votos. A oposição considerou o escrutínio fraudulento, tal como vários países ocidentais.
Recusando qualquer concessão, o chefe de Estado bielorrusso prendeu ou forçou ao exílio a maioria dos seus opositores e denuncia manifestações conduzidas pelo Ocidente para o derrubar.
A repressão violenta do movimento de contestação causou vários mortos e várias centenas de pessoas foram detidas.
As autoridades bielorrussas acusam Roman Protasevich de organizar motins em massa, acusação que poderá levar a uma pena de prisão de até 15 anos.
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