A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à gestão da pandemia no Brasil, que decorre no Senado, revelou provas crescentes que o governo de Jair Bolsonaro cometeu “crimes contra a vida”, salientou o senador Omar Aziz ao The Guardian.
A CPI foi determinada em abril e tem demonstrado as incoerências das decisões políticas do governo brasileiro relativamente à pandemia. “O mais chocante é perceber o quão negligente o governo tem sido, em tantas questões”, vinca Omar Aziz.
Os testemunhos de antigos membros do governo e revelação de novos documentos ajudaram a esclarecer o contexto em que o governo de Bolsonaro recusou ofertas para comprar vacinas no ano passado, mas também o falhanço na resposta à escassez de botijas de oxigénio em Manaus.
Uma crise que Omar Aziz acompanhou de perto, uma vez que é o senador do estado do Amazonas, cuja capital é Manaus. “Foi desesperante. Fizemos o que pudemos, enquanto o governo não fez nada para trazer oxigénio da nossa vizinha Venezuela”, recordou.
Aziz criticou ainda a postura de Bolsonaro face à Covid-19. “Os líderes mundiais estão horrorizados com a atitude do presidente. Enquanto reforçam o isolamento social e a vacinação, o nosso presidente participa em passeios de mota”.
A CPI constatou que Bolsonaro nunca quis comprar vacinas e que apostou na imunidade de grupo, o que, segundo os críticos, custou milhares de vidas (o Brasil totaliza 509 mil óbitos).
“Nesta abordagem, os fortes vão salvar-se e os fracos vão morrer. É totalmente errada”, disse Aziz, que referiu ainda que o inquérito no Senado vai investigar os conselheiros e aliados que levaram Bolsonaro a adotar esta resposta catastrófica.
“Queremos saber quem está a lucrar com isto. O presidente não acordou um dia e pensou que o ‘tratamento precoce’ ou a imunidade de grupo resultam. Foi levado a pensar assim por um ‘gabinete paralelo’”, enfatizou Omar Aziz.
As conclusões da CPI à gestão da pandemia devem ser divulgadas em agosto. As provas recolhidas poderão ser usadas em futuras investigações criminais, e podem levar o Congresso brasileiro a avançar com um processo de ‘impeachment’ contra Jair Bolsonaro.
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