"É uma opção que nem quero pensar [Xavier Bertrand suceder a Emmanuel Macron na Presidência]. Macron tem um bom mandato, especialmente durante a pandemia, e acho que é preciso confiar nele para os próximos anos. Já o vimos várias vezes aqui, especialmente antes de ele ser Presidente. Ele é muito empático, gosta muito das pessoas e ouve-as muito. Ele é um bom vizinho", disse à agência Lusa Marie France, residente a tempo inteiro em Touquet-Paris-Plage desde que se reformou há alguns meses.
Tal como muitos residentes nesta estância balnear de luxo, Marie France começou por comprar uma casa de férias em Touquet-Paris-Plage, no norte da França, mas acabou por passar cada vez mais tempo nesta ponta norte do hexágono, em vez da sua casa em Paris.
A vida em Touquet-Paris-Plage é "fora do tempo normal" onde "tudo é bonito" e, acima de tudo, "é calmo", destacou Marie France.
Emmanuel Macron é originalmente de Amiens, uma cidade média a algumas dezenas de quilómetros, mas foi em Touquet que se reinventou. A mulher, Brigitte Macron, tem aqui uma casa de família e foi nesta pequena vila costeira que o casal celebrou o seu casamento em 2007.
É aqui que o Presidente vem para se recolher, como quando escreveu o livro "Révolution" (2016) que acabou por dar origem a um movimento político que o levou até ao Eliseu, ou quando precisa descansar nos poucos fins de semana disponíveis.
É também aqui que volta a cada eleição em França para exercer o seu direito de voto e a segunda volta das eleições regionais, que se disputam hoje, não foi exceção.
O Presidente chegou por volta das 12:45, cumprimentou quem esteva à sua espera, entrou e votou. À saída novo banho de multidão, com algumas dezenas de pessoas a desejarem bom domingo ao casal presidencial.
"Vim ver o Presidente. Eu sigo-o desde 2017, para todo o lado. Tenho montes de fotografias dele e com ele. Gosto muito dele. Ele é bonito, inteligente. Ainda agora me reconheceu", contou à Lusa Christiane, visivelmente entusiasmada.
Christiane assume-se como fã do Presidente e também ela não quer ouvir falar em Xavier Bertrand à frente do país.
"Se ele for contra Macron, não o quero e ele não vai ganhar, mesmo se o meu marido me disse que ele fez coisas boas para os jovens e trouxe mais trabalho. Ele não é melhor que Macron", insistiu.
Na primeira volta das eleições regionais que aconteceu no último domingo, Xavier Bertrand obteve 41,42% dos votos, estando lançado para um segundo mandato à frente da região. Mas o candidato da direita quer mais.
A sua ambição é, através do sucesso na região de Hauts-de-France, lançar-se numa campanha presidencial já para abril de 2022.
"Xavier Bertand é carismático e tem uma longa carreira na política. Acho que ele é um candidato potencialmente perigoso para Macron, mas não é a minha preferência", disse Bruno que veio acompanhar a filha, que queria dar um desenho ao Presidente.
Emmanuel Macron deu tudo por tudo na primeira volta em Hauts-de-France para destronar Bertrand, apostando numa lista com quatro ministros, incluindo algumas das figuras mais polémicas do seu Governo, como Gerald Darmanin, ministro do Interior, e Éric Dupond-Moretti, ministro da Justiça, mas não resultou.
Tal como nas restantes regiões, o partido do Presidente, República em Marcha (LREM), acabou por nem se qualificar para a segunda volta e aconselhou mesmo os seus eleitores a votarem em Bertrand que tem como principal adversário Sébastien Chenu, da União Nacional (RN, na sigla em francês), o partido de extrema-direita liderado por Marine Le Pen.
Com o metro quadrado acima dos 6.500 euros e com uma casa a custar facilmente mais de um milhão de euros, Touquet não é representativo da região de Hauts-de-France.
Nesta região de cerca de cinco milhões de habitantes, mais de 1 milhão de pessoas vive abaixo do limiar da pobreza, estabelecido em França em 1.041 euros mensais e há também alguns dos bairros mais complicados em termos de criminalidade.
"A vida em França não é como aqui em Touquet. Isto é como se fosse o Mónaco. Nesta região as pessoas passam dificuldades", lembrou Nadine, que veio passar um fim de semana perto da estância balnear com as amigas.
Estas quatro amigas, entre os 20 e os 30 anos, e que vêm da região da Grande Leste, no leste do país, nenhuma votou nas regionais e não têm qualquer interesse nestas eleições.
"A política não me interessa nada, não vejo as notícias, nem sei [quem são] os candidatos", declarou Marianne.
Mas o caso muda de figura para as presidenciais de 2022.
"Para as regionais ninguém vota, mas para as presidenciais vai haver menos abstenção. Até porque acho que a pandemia e a sua gestão vão ter um impacto importante e será algo negativo para Emmanuel Macron. A política dele durante a pandemia foi incoerente", defendeu Nadine.
Com uma abstenção recorde na primeira volta, em que 66,74% dos franceses decidiram não votar, as expectativas para este domingo não são melhores já que ao meio-dia apenas 12,66% dos eleitores tinham ido até às urnas em todo o país.
Leia Também: Afluência às urnas nas eleições regionais francesas baixa às 17h