Partido Comunista Chinês tenta consolidar o seu futuro nos seus cem anos
O Partido Comunista Chinês comemora na quinta-feira o seu centenário, uma efeméride que servirá, não apenas para glorificar o passado, mas também para consolidar o seu futuro e o do secretário-geral e Presidente, Xi Jinping.
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Na preparação para o aniversário, Xi e o Partido exortaram os seus membros e a nação a lembrarem os primeiros dias de luta, nas colinas da região interior de Yan'an, onde Mao Zedong se estabeleceu como líder do Partido Comunista nos anos 1930.
Cavadas em penhascos de terra, as casas primitivas onde viviam Mao e os seus seguidores são agora locais turísticos para milhões de chineses.
As casas, em formato de caverna, parecem distantes de Pequim, a capital moderna onde as festividades ocorrem, e dos arranha-céus de Shenzhen e de outros centros de alta tecnologia e finanças, no leste do país, e que estão mais associados à China atual.
Ainda assim, ao marcar o seu centenário, o Partido Comunista está a usar esse passado - seletivamente - para tentar garantir o seu futuro e o de Xi, o mais poderoso líder chinês desde Mao Zedong.
"Ao vincular o Partido a todas as conquistas da China no século passado, e a nenhum dos seus fracassos, Xi está a tentar reforçar o apoio para a sua visão, o seu direito de liderar o Partido e o direito do Partido de governar o país", disse Elizabeth Economy, investigadora da Instituição Hoover da Universidade de Stanford, citada pela agência Associated Press.
As celebrações desta semana concentram-se em duas épocas distintas - as primeiras lutas e as conquistas recentes - omitindo quase três décadas de governação de Mao, dos anos 1950 a 1970, quando políticas sociais e económicas desastrosas deixaram milhões de mortos e o país à beira do colapso.
Uma espetacular gala ao ar livre com a presença de Xi em Pequim na noite de segunda-feira reviveu a Longa Marcha dos anos 1930, mas também se focou no presente, com representações de forças especiais a escalar uma montanha e trabalhadores médicos no combate contra a epidemia da covid-19.
O Partido há muito invoca a sua história para justificar o direito de governar, disse Joseph Fewsmith, professor de política chinesa na Universidade de Boston, citado pela AP.
Reforçar a sua legitimidade é fundamental, já que o Partido Comunista governou a China sozinho por mais de 70 anos, ultrapassando o colapso da União Soviética e através da adoção inesperada de reformas económicas que construíram uma potência económica, embora milhões continuem na pobreza.
Muitos políticos e analistas ocidentais acreditavam que o capitalismo ia transformar a China numa democracia à medida que seu povo prosperasse, seguindo o padrão de ex-ditaduras como a Coreia do Sul e Taiwan.
O Partido Comunista confundiu esse pensamento, dando uma guinada decisiva contra a democracia, quando reprimiu os protestos pró-democracia na Praça Tiananmen de Pequim, em 1989, e anulou quaisquer desafios ao governo de partido único nas décadas seguintes.
Nos últimos anos, praticamente extinguiu a dissidência em Hong Kong, depois de protestos antigovernamentais abalarem a cidade, em 2019.
Os seus líderes aprenderam a lição da União Soviética, onde os comunistas perderam o poder depois de abrirem a porta para o pluralismo, disse Zhang Shiyi, do Instituto de História e Literatura do Partido.
Ao invés, a riqueza recém-descoberta da China deu ao Partido os meios para construir uma rede ferroviária de alta velocidade e outras infraestruturas, para modernizar o país, e projetar influência no exterior, com um forte exército e um ambicioso programa espacial.
A China ainda é um país de médio rendimento, mas a sua dimensão torna-a a segunda maior economia do mundo, colocando-a em trajetória para rivalizar com os Estados Unidos como superpotência.
Embora seja difícil avaliar o apoio público ao Partido, ele provavelmente foi impulsionado pelo menos em alguns setores pelo sucesso relativo da China em controlar a pandemia da covid-19 e por ter resistido às críticas dos Estados Unidos e outros países ocidentais.
"Nunca estivemos tão confiantes sobre o nosso futuro", disse a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Hua Chunying, aos jornalistas.
O Partido insiste que não tem intenções de exportar o seu modelo para outros países, mas se a China continuar a crescer, pode muito bem desafiar o modelo democrático ocidental que venceu a Guerra Fria e dominou a era pós Segunda Guerra Mundial.
"Nos Estados Unidos, só se fala, fala, fala", disse Hua. "Tentam-se ganhar votos, mas, ao fim de quatro anos, os adversários podem derrubar as suas políticas. Como se pode garantir o padrão de vida da população, que as suas exigências possam ser satisfeitas", questionou.
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