Etiópia critica intromissão de Liga Árabe em diferendo sobre megabarragem
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Etiópia criticou hoje a "intromissão" dos países árabes na controvérsia sobre a megabarragem que o país está a construir no Nilo Azul e na origem de uma disputa com Sudão e Egito.
© Minasse Wondimu Hailu/Anadolu Agency via Getty Images
Mundo Etiópia
"A Etiópia rejeita a intromissão indesejada da Liga Árabe na questão da Grande Barragem do Renascimento Etíope [GERD, em inglês], na sequência do envio pela Liga de uma carta ao Conselho de Segurança das Nações Unidas e à Assembleia Geral da ONU para intervir na questão", refere um comunicado publicado hoje, no qual o executivo etíope informou o envio de uma carta ao organismo da Organização das Nações Unidas.
A Etiópia afirma que o problema deve ser tratado a nível africano e rejeitou a realização, na quinta-feira, de uma sessão especial do Conselho de Segurança da ONU sobre a barragem, solicitada pelos países árabes, noticia a agência Efe.
Os responsáveis pela diplomacia dos Estados da Liga Árabe reuniram-se em junho pela primeira vez para discutir a GERD, depois de o Egito ter procurado a organização para obter apoio internacional.
A Liga Árabe respondeu ao apelo egípcio e apoiou Cairo e Cartum, tendo apelado à Etiópia para se abster de tomar medidas unilaterais -- algo que viria a fazer na segunda-feira, quando Adis Abeba informou o Egito de que iniciou o segundo processo de enchimento da barragem.
"A abordagem da Liga corre o risco de minar as relações amigáveis e de cooperação entre a União Africana e a Liga Árabe, dado que a negociação trilateral sobre a GERD está a ter lugar sob a direção da União Africana", aponta a carta enviada ao Conselho de Segurança da ONU.
Egito e Sudão rejeitaram a iniciativa de Adis Abeba, assinalando que poderá agravar as tensões antes da reunião do Conselho de Segurança.
Depois de o Egito ter anunciado, na noite de segunda-feira, que tinha sido informado pela Etiópia do início da segunda fase de enchimento da barragem, o Sudão afirmou hoje que tinha recebido a mesma notificação.
No entanto, a Etiópia não confirmou oficialmente esta operação. Um responsável etíope, citado pela agência France-Presse, sob anonimato, afirmou que a operação teria lugar "em julho e agosto" e que a acumulação de água é um processo natural, em particular devido à estação chuvosa.
Após o fracasso das últimas rondas negociais, realizadas entre 04 e 06 de abril sob os auspícios da presidência rotativa da União Africana, a Etiópia disse que iria avançar com o processo de enchimento da GERD e que fez uma oferta ao Egito e ao Sudão para facilitar a troca de informações sobre o processo, que ambos os países rejeitaram.
Cairo e Cartum, por sua vez, alertaram Adis Abeba sobre a tomada de qualquer "ação unilateral", afirmando que, nessa eventualidade, "todas as opções estarão abertas".
Os dois Estados consideram que o processo de enchimento da barragem pode afetar gravemente os níveis de água do Nilo nos seus respetivos troços.
A Etiópia, por sua vez, considera que o projeto é estratégico para o seu desenvolvimento, tanto em termos de irrigação, como em termos de produção de eletricidade.
A GERD, avaliada em mais de 4 mil milhões de dólares (mais de 3,5 mil milhões de euros), deverá recolher 13,5 mil milhões de metros cúbicos de água do rio Nilo Azul durante a época chuvosa, aumentando a reserva para 18,4 mil milhões de metros cúbicos, segundo este departamento governamental.
O Nilo Azul, rio que conflui com o Nilo Branco e com o rio Atbara, é um dos principais contribuintes do rio Nilo, sendo responsável, durante a estação chuvosa, por até cerca de 80% da água deste último.
Atualmente, a GERD está 80% concluída, esperando-se que atinja a plena capacidade de produção em 2023, o que a tornará na maior central hidroelétrica africana e a sétima maior do mundo, segundo órgãos de comunicação social estatais.
Sudão e Egito temem que a construção do projeto, que vai permitir à Etiópia gerar 6.000 megawatts de eletricidade, coloque o caudal do rio Nilo sob o controlo da administração etíope.
Com cerca de 6.000 quilómetros, o rio Nilo é uma fonte vital para o abastecimento de água e eletricidade para cerca de 10 países da África Oriental.
Leia Também: Cerca de 400 mil pessoas em situação de fome no Tigray, na Etiópia
Descarregue a nossa App gratuita.
Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.
* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com