O gestor de vendas afegão vai acompanhando a situação que admite ser "muito crítica". Apesar de ter apenas uma tia em Cabul, Habib está pendente de todos os desenvolvimentos do país, assumindo-se preocupado com o futuro "quando a NATO e os alemães abandonarem totalmente o terreno, quando já ninguém controlar e supervisionar o que os talibãs fazem".
Habib recorda a chegada à Alemanha, há 30 anos, quando o pai pediu asilo político. Agradecido ao país, reconhece que agora "a Alemanha admitiu erros, toda a NATO admitiu erros", sublinhando que, "mais não seja por culpa, a Alemanha tem de receber refugiados".
A chanceler Angela Merkel anunciou esta terça-feira que o país vai retirar com urgência cerca de 10.000 pessoas que estão sob sua responsabilidade no Afeganistão, admitindo cooperar com os países que fazem fronteira para fornecer suporte aos que tentam fugir.
Ainda assim, a uma televisão local o secretário-geral da CDU, Paul Ziemiak, admitiu que a Alemanha não deve repetir a política adotada durante a crise migratória de 2015, altura em que mais de um milhão de refugiados entrou no país.
Foi precisamente há seis anos que o afegão Massiullah Mollahzada chegou à Alemanha com a família. Viveu durante dois anos num alojamento para refugiados, agora mora num apartamento em Potsdam, perto de Berlim.
Lamenta a situação que o seu país atravessa, e antecipa um futuro negro. "Não há, nem haverá paz. E não será apenas por um ou dois anos. São já décadas de guerra", revelou à agência Lusa.
O que mais o motivou a mudar-se para a Alemanha foi a procura de uma boa educação, que lhe permitisse chegar a ser o que sonha, designer de moda.
"Aqui cada pessoa tem os seus direitos e pode fazer o que quiser, não importa se és afegão, árabe, (...) cada um pode encontrar o seu próprio caminho", comenta sobre a possibilidade da Alemanha voltar a abrir as portas a refugiados.
Habib espera que o país não se transforme no que era há 20 anos, e confessa à agência Lusa ter medo porque está tudo a acontecer "muito rápido".
"Nem todos os afegãos estão contra os talibãs. Presumo que sejam sobretudo as mulheres, já que todos os direitos das mulheres ficarão completamente obsoletos. Ainda tudo pode piorar, com as mulheres a serem tratadas como escravas. Apesar disso, nem todos os homens afegãos, ou a maioria deles, é contra os talibãs", lamentou, acrescentando os motivos.
"São especialmente os mais pobres os que não conseguem entender bem a agenda dos talibãs, ou a consequência dos seus atos. Eles apenas ficam contentes por ver que todos os estrangeiros estão fora, e que eles já têm o país só para eles. Esse é precisamente o argumento que os talibãs usam para fazer com que mais pessoas se juntem à sua causa", apontou.
A Alemanha vai a eleições a 26 de setembro, as primeiras em 16 anos sem Angela Merkel na corrida. Armin Laschet, candidato pelo seu partido, a União Democrata-Cristã (CDU), já disse que a crise humanitária no Afeganistão é o maior fiasco da NATO desde a sua fundação, em 1949.
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