Os talibã falaram esta terça-feira em conferência de imprensa, pela primeira vez desde que tomaram a cidade afegã de Cabul, no passado domingo, e prometeram um regime menos bruto do que aquele que vigorou entre 1996 e 2001, ainda que não esclarecendo de que forma.
A conferência foi conduzida pelo porta-voz Zabihullah Mujahid que começou por dizer que, após 20 anos, os estrangeiros foram "expulsos" e que se trata de "um momento de orgulho para toda a nação".
"Queremos garantir que o Afeganistão não é mais um campo de batalha", acrescentou, garantindo que querem o fim das "animosidades". "Perdoámos todos aqueles que lutaram contra nós. As animosidades acabaram".
Por outro lado, disseram não querer conflito para lá das fronteiras. "Não queremos inimigos externos ou internos", afirmou Zabihullah Mujahid.
In response to a question about differences between the 1990s Taliban and today's, Mujahid said the ideology and beliefs are the same because they are Muslims, but there is a change in terms of experience--they are more experienced and have a different perspective. pic.twitter.com/IZBkc5gxx4
— TOLOnews (@TOLOnews) August 17, 2021
Sobre o futuro das mulheres e meninas, um dos temas mais discutidos nos últimos dias, prevendo-se uma regressão em termos de direitos humanos, o porta-voz do movimento extremista islâmico foi pouco claro, dizendo que estão "comprometidos com os direitos das mulheres, sob o sistema da sharia [lei islâmica]."
"Elas vão estar lado a lado connosco. Queremos garantir à comunidade internacional que não existirá discriminação", disse, uma intenção que já tinha sido antes veiculada, tendo as mulheres sido desafiadas a fazer parte do governo, mas sem indicar sob que condições. No antigo regime, as mulheres eram proibidas de estudar, trabalhar, conduzir ou andar na rua desacompanhadas. "Vamos permitir que as mulheres trabalhem e estudem, dentro dos nossos padrões. As mulheres vão ser muito ativas na nossa sociedade, mas dentro das nossas molduras."
A comunidade internacional foi mencionada mais do que uma vez. "Quero assegurar à comunidade internacional que ninguém vai ser ferido", disse Zabihullah Mujahid. "Não queremos problemas com a comunidade internacional."
Porém, esclareceram: "Temos o direito de agir de acordo com os nossos princípios religiosos. Outros países têm leis, regulações e formas de agir diferentes... Os afegãos têm o direito de ter as suas próprias leis e regras de acordo com os nossos valores."
Mujahid says they want all media outlets to continue their activities. They have three suggestions: No broadcast should contradict Islamic values, they should be impartial, no one should broadcast anything that goes against our national interests. pic.twitter.com/eyQT7MiZQr
— 🇵🇰Mushtaq Raaz Journalist (@RealMushtaqRaaz) August 17, 2021
Sobre a imprensa. "Quero garantir aos meios de comunicação social que estamos comprometidos com eles, dentro dos nossos padrões culturais", disse o porta-voz, acrescentando que os "meios de comunicação privados podem continuar a ser livres e independentes."
Já nas respostas às perguntas dos jornalistas, quando questionado sobre as pessoas que têm trabalhado com poderes estrangeiros, Zabihullah Mujahid disse que "ninguém irá ser tratado com vingança." "A juventude que cresceu aqui, não queremos que se vão embora. São os nossos ativos."
"Ninguém vai bater à porta deles e perguntar para quem andaram a trabalhar. Vão estar seguros. Ninguém vai ser interrogado ou perseguido", declarou.
Apesar das promessas, a maioria da população mantém-se cética, com as gerações mais velhas a recordarem nitidamente o ultraconservadorismo islâmico defendido pelos talibãs nos anos 1990, incluindo as severas restrições às mulheres, os apedrejamentos e amputações públicas e o isolamento em relação ao resto do mundo.
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