Afeganistão. Estátua de antigo dirigente de minoria xiita destruída
Uma estátua de Abdul Ali Mazari, líder de uma milícia xiita morto em 1995, quando era prisioneiro dos talibãs, foi parcialmente destruída em Bamyan, disseram hoje residentes naquela cidade do centro do Afeganistão.
© Getty Images
Mundo Abdul Ali Mazari
"A estátua foi destruída ontem [terça-feira] à noite. Utilizaram um explosivo", disse um residente à agência France-Presse (AFP) sob a condição de não ser identificado.
A mesma fonte disse que a cabeça da estátua tinha sido destruída, sem poder precisar quem tinha cometido o atentado.
"Não sabemos ao certo quem fez explodir a estátua, mas há aqui diferentes grupos de talibãs, alguns dos quais são conhecidos pela sua brutalidade", disse à AFP.
Segundo a mesma fonte, "alguns dos anciãos encontraram-se com o governador talibã (...) e queixaram-se, e ele disse que iria investigar".
Outra residente na cidade, que pediu à AFP para ser identificada apenas como Zara, culpou mais diretamente os talibãs, dizendo que um grupo dos seus combatentes tinha utilizado um lança-foguetes para danificar a estátua.
"A estátua está destruída e as pessoas estão tristes, mas também assustadas", acrescentou.
Segundo a agência Associated Press (AP), foram divulgadas fotos da estátua destruída nas redes sociais.
Bamyan é a capital da província do mesmo nome onde os talibãs explodiram, em 2001, dois budas gigantes esculpidos numa montanha há 1.500 anos, alegando que as estátuas violavam a proibição da idolatria do islão.
A destruição dos budas de Bamyan provocou um protesto internacional.
Abdul Ali Mazari é um herói da minoria xiita Hazara, e liderou uma milícia que combateu os talibãs antes de terem governado o Afeganistão pela primeira vez, entre 1996 e 2001.
Mazari foi morto pelos talibãs em março de 1995, depois de ter sido feito prisioneiro pelos talibãs.
Os talibãs afirmaram na altura que alvejaram Mazari quando tentou apreender a arma de um dos seus guardas.
A comunidade Hazara, principalmente xiita, representa entre 10% e 20% dos 38 milhões de habitantes do Afeganistão e há muito que é perseguida por extremistas sunitas num país dilacerado por divisões étnicas e religiosas, segundo a AFP.
Os elementos desta minoria têm sido frequentemente alvo de ataques dos talibãs e do grupo jihadista Estado Islâmico, que os consideram hereges.
O mais recente ocorreu em maio, em Cabul, onde mais de 80 pessoas, na sua maioria raparigas, foram mortas num atentado à bomba numa escola.
Os talibãs voltaram ao poder no fim de semana passado, após terem capturado grande parte do Afeganistão numa questão de dias, menos de três semanas antes de os EUA e completarem a retirada das suas tropas.
Os líderes dos talibãs prometeram uma nova era de paz e segurança, dizendo que perdoarão aqueles que lutaram contra eles e que concederão às mulheres plenos direitos ao abrigo da lei islâmica.
Mas muitos afegãos duvidam destas intenções, especialmente os que se lembram da primeira vez em que os talibãs estiveram no poder, quando impuseram uma interpretação dura da lei islâmica.
Nessa altura, as mulheres estavam em grande parte confinadas às suas casas, a televisão e a música eram proibidas, e os suspeitos de crimes eram açoitados, mutilados ou executados em público.
O grupo também acolheu Osama bin Laden e a Al-Qaida nos anos anteriores aos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, o que motivou a intervenção dos EUA e dos seus aliados da NATO, pondo fim ao regime dos talibãs.
Os talibãs dizem agora que impedirão que o Afeganistão volte a ser utilizado como base para ataques terroristas, algo que foi consagrado num acordo de paz em 2020, com a administração de Donald Trump, que abriu o caminho para a retirada das forças norte-americanas e dos seus aliados, acrescentou a AP.
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