As conclusões são de um estudo que foi hoje publicado na 'Frontiers in Public Health', em que foram ouvidas as opiniões de 18 especialistas europeus em saúde pública sobre a resposta da UE durante a primeira vaga da pandemia.
No entender dos peritos, os interesses individuais dos diferentes países sobrepuseram-se muitas vezes a respostas mais amplas à escala da União, um sinal da fraca posição do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC na sigla em inglês) e da Direção-Geral de Saúde e Segurança Alimentar.
Durante a atual pandemia, especificamente, a posição frágil destas duas instituições no contributo de uma resposta coordenada tornou-se "dolorosamente óbvia", considera um dos seis autores, Thomas Krafft.
"A preocupação com os interesses políticos nacionais a curto prazo e a fragmentação e ausência de liderança das instituições da UE impediu uma resposta pandémica coordenada e efetiva", sublinha o professor na Universidade de Maastricht, nos Países Baixos, citado em comunicado.
Exemplo disso, refere, foi a forma como diferentes países reagiram de maneiras muito distintas durante os primeiros meses da pandemia: Se Espanha e Itália restringiram a circulação no país e impuseram quarentenas estritas, os Países Baixos e a Suécia rejeitaram o confinamento geral e confiaram nos seus cidadãos.
Segundo os autores, a forma como estas medidas variadas, e por vezes conflituantes, foram cosidas numa espécie de manta de retalhos poderá ter enfraquecido a confiança do público nas autoridades de saúde nacionais e da UE.
Por outro lado, os especialistas ouvidos nas entrevistas que decorreram em maio e agosto de 2020 também identificaram aspetos positivos da resposta da UE, designadamente a respeito das vacinas contra a covid-19.
"O mecanismo de aquisição conjunta da UE foi reconhecido como uma grande conquista e um instrumento válido de gestão de crise", resume a principal autora do estudo, Marie Gontariuk, acrescentando que, ainda assim, os peritos também concordaram que haveria melhorias a fazer.
Segundo as conclusões do estudo, àquela data, a maioria dos especialistas aprovou a abordagem cooperativa da União para a aquisição de vacinas, apesar de considerarem que o processo foi mais lento do que o desejado.
Por outro lado, e em nota negativa, alguns referiram que parecia haver uma "surpreendente falta de confiança e transparência" entre os países, sobretudo a respeito da promulgação do Regulamento Sanitário Internacional, conforme preconizado pela Organização Mundial da Saúde.
Perante estas conclusões, a principal autora do estudo, Marie Gontariuk, deixa uma recomendação: "A nível dos Estados-membros, a segurança sanitária global deveria tornar-se, novamente, um aspeto critico das suas agendas nacionais para a saúde".
Esta visão é partilhada com uma outra autora, Eva Pilot, que acrescenta que deveria ser uma prioridade máxima trabalhar em prol de um sistema nacional de saúde coordenado, melhorado e resiliente, fortalecendo também os sistemas de vigilância locais, regionais e nacionais.
O estudo hoje publicado reflete apenas a avaliação da resposta da UE durante a primeira vaga da pandemia da covid-19 e, por isso, os responsáveis ressalvam que são necessárias mais entrevistas para ter uma imagem mais completa, que acompanhe a evolução da pandemia, e consideram também útil ouvir os pontos de vista dos políticos, além dos especialistas médicos.
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