Eleição na Alemanha? "Aborrecida" e com "pouco debate"
Rara é a rua de Berlim sem cartazes, os candidatos desdobram-se em viagens pelo país, mas, para o politólogo Oscar Gabriel falta debate e entusiasmo, e a campanha não é "digna desse nome".
© Julian Stratenschulte/picture alliance via Getty Images
Mundo Politólogo
"Os três principais candidatos permanecem bastante passivos. Devido ao seu cargo de vice-chanceler e ministro das Finanças, o candidato dos social-democratas (SPD), Olaf Scholz, é um pouco mais visível que os seus dois concorrentes, Annalena Baerbock (dos Verdes), e Armin Laschet (da CDU)", revelou, à agência Lusa, o professor emérito da Universidade de Estugarda.
Uma "campanha chata" e "sem inspiração", adiantou, apesar de "todos os problemas que a Alemanha enfrenta": a pandemia, a catástrofe das cheias, as mudanças climáticas e a vitória dos talibãs no Afeganistão, entre outros.
"Acho que a falta de debate sobre estas questões se deve sobretudo à luta contra o novo coronavírus. Nem os candidatos, nem os partidos que os apoiam, parecem ter uma ideia clara de como lidar com a enorme quantidade de problemas", revelou.
Também o jornalista Martin Kessler, editor de política do jornal Rheinische Post, assume que esta tem sido uma campanha "bastante aborrecida, sem grandes questões, e sem verdadeiros temas em debate".
"Penso que nas últimas campanhas havia mais assuntos, como impostos, economia, segurança social, dívida pública, o euro, e até a proteção ambiental", acrescentou à agência Lusa.
Para Benjamin Höhne, vice-diretor do Instituo de Pesquisa Parlamentar (IParl, "não há um prenúncio de mudança, como houve com quando Kohl saiu do poder, em 1998", acrescentando que "também não há um claro favorito, apesar da CDU/CSU ter mais chances de ganhar as eleições".
Depois de 16 anos no poder, Angela Merkel deixa a chancelaria ainda durante uma pandemia, em plena crise no Afeganistão, que promete trazer de volta ao debate o tema dos refugiados, e pouco depois de umas cheias com consequências devastadoras.
De acordo com as últimas sondagens, a União Democrata-Cristã (CDU) mantém-se à frente, com resultados que podem ir dos 22% aos 27%, contrastando com os 32,9% conseguidos em 2017.
O SPD conseguiu ultrapassar os Verdes, tornando-se, de acordo com as projeções, o segundo partido mais votado com 21% dos votos.
"Não é possível prever quem será o futuro chanceler", defende Oscar Gabriel, mas podem apontar-se alguns cenários improváveis.
"Um governo formado por apenas dois partidos, incluindo uma renovação da atual 'Grande Coligação', uma integração da AfD num futuro governo, e uma coligação formada exclusivamente por partidos de esquerda", apontou.
A ausência de um claro favorito na corrida prende-se sobretudo com os altos e baixos dos candidatos, com destaque para Armin Laschet e Annalena Baerbock.
"Em parte podem justificar-se com erros individuais que os candidatos dos Verdes e da CDU cometeram. Baerbock, em particular, sofreu um ataque feroz. Primeiro vieram os estereótipos de género, depois as acusações de plágio", esclareceu o politólogo Benjamin Höhne.
"Não consigo lembrar-me de uma 'anti-campanha' que possa ser comparada à atual, contra os Verdes. Por um lado, isso acontece porque eles têm a possibilidade de conquistar a chancelaria pela primeira vez. Por outro lado, o complexo populista de direita contribui para uma brutalização da comunicação política", analisou.
A pouco mais de um mês das eleições legislativas, marcadas para 26 de setembro, os candidatos apostam nas redes sociais para atrair o eleitorado. Nas ruas, e mesmo com cartazes, as conversas giram à volta de vacinas e máscaras, dando pouco relevo ao momento político que se avizinha.
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