Cuomo passou da fama e sucesso político ao vexame por assédio sexual
Hoje é o último dia dos dez anos de Andrew Cuomo como governador do Estado de Nova Iorque, acabados abruptamente com um pedido de demissão forçado devido a acusações de assédio sexual.
© Reuters
Mundo Andrew Cuomo
No espaço de um ano, Andrew Cuomo tanto recebeu os louros pela luta contra a pandemia de covid-19 e foi visto como possível candidato à Presidência do país, como foi altamente criticado por ter ocultado o número real de mortes em lares de idosos.
Antigo secretário e desenvolvimento urbano dos Estados Unidos, na administração de Bill Clinton, Andrew Cuomo enfrenta desde final de 2020 uma avalanche de acusações públicas de assédio sexual no trabalho por antigas e atuais assistentes e outras mulheres, que revelam memórias de incidentes em páginas de jornais como New York Times, Washington Post, ou Wall Street Journal.
O governador tentou refutar e responder a todas as acusações, mas a pressão acumula-se com inúmeros apelos à demissão de Cuomo por figuras políticas de alto nível, tanto de forças opositoras como do partido Democrata, juntamente com um processo de destituição ('impeachment') que estava a ser preparado pelo poder legislativo do Estado.
De seguida, uma cronologia dos principais acontecimentos nos três mandatos e dez anos do governador Andrew Cuomo:
2011
01 de janeiro - Depois de vencer a eleição em 02 de novembro de 2010 pelo partido Democrata, Andrew Cuomo toma posse e começa funções como 56.º governador de Nova Iorque. Começa assim o percurso nas pisadas do seu pai, Mario Cuomo, governador de Nova Iorque durante três mandatos, de 1983 a 1994.
No seu primeiro orçamento de Estado, Cuomo introduz um limite ao aumento anual das taxas e impostos sobre propriedades imobiliárias para os 2% anuais. Foi um lema da campanha e continua ainda hoje a ser aplicado.
24 de junho -- A legalização dos casamentos de pessoas do mesmo sexo foi uma das maiores conquistas. Nova Iorque torna-se no maior Estado norte-americano até então a legalizar a união gay, com o 'Marriage Equality Act'. Só em 2015 os Estados Unidos viriam a dar este direito em todo o território.
2012
Com a melhoria de infraestruturas entre os objetivos de primeiro plano para o governador, é decidida a construção de uma nova ponte em substituição da 'Tapan Zee Bridge', uma das maiores e importantes no Estado. A nova ponte é construída entre 2013 e 2017 e passa a ter o nome 'Governor Mario M. Cuomo Bridge', em memória do seu pai.
2013
Em 14 de dezembro de 2012, o tiroteio na escola primária Sandy Hook, onde morrem 20 crianças e seis funcionários, choca a nação e inspira a criação do 'SAFE Act' pelo governador no início de 2013, uma nova lei de controlo de venda de armas.
Andrew Cuomo cria a Comissão para Investigar a Corrupção Pública, que iria investigar violações de leis eleitorais ou de campanha por políticos e organizações políticas de Nova Iorque.
2014
04 novembro - Andrew Cuomo é reeleito governador, com Kathy Hochul na candidatura para vice-governadora de Nova Iorque.
A Comissão para Investigar a Corrupção Pública é abruptamente terminada em 2014, levantando suspeitas, críticas e uma investigação sobre o governador e a sua equipa.
Legalização, ainda que restrita, do uso médico de canábis e criação do programa 'Compassionate Care Act' para regular o uso de canábis medicinal.
2015
Início do segundo mandato e morte do pai, Mario Cuomo.
2016
Na sequência da investigação sobre a equipa de Cuomo, depois do encerramento da Comissão para Investigar a Corrupção Pública, o procurador federal Preet Bharara condena um importante assistente e amigo próximo de Cuomo, Joseph Percoco, a seis anos de prisão por aceitar subornos. O governador sai sem acusações.
2017
28 de junho -- Uma situação de crise nos transportes públicos de Nova Iorque, deterioração das infraestruturas e uma série de acidentes de metro com dezenas de feridos levam o governador a declarar estado de emergência na Autoridade do Transporte Metropolitano (MTA). O estado de emergência foi renovado 49 vezes ao longo de quatro anos. O governador do Estado e o 'mayor' da cidade, Bill de Blasio, expressam desentendimentos e desacordos sobre responsabilidades.
2018
06 de novembro -- Andrew Cuomo vence a eleição para governador pela terceira vez.
Além do governador ser do partido Democrata, o senado e assembleia estadual também ganham maioria de membros do mesmo partido.
2019
Com uma clara maioria, os democratas aprovam e o governador assina uma série de leis entre as quais se contam reformas do processo eleitoral, reformas na saúde reprodutiva e descriminalização do aborto e medidas contra o assédio sexual no local de trabalho
2020
Março -- A pandemia de covid-19 tem um impacto especialmente grave em Nova Iorque, que se torna, nos meses seguintes, o epicentro da pandemia nos Estados Unidos.
A liderança de Andrew Cuomo é aplaudida, com várias medidas para ajudar os nova-iorquinos a sobreviver à crise.
Popularidade do governador é alta, com sondagem do instituto de pesquisas do Siena College a revelar, em 30 de março, que 87% dos nova-iorquinos aprovam a resposta de Cuomo à pandemia de covid-19.
23 de novembro - Cuomo é agraciado com um prémio Emmy pelas conferências televisivas diárias sobre a pandemia de covid-19 em Nova Iorque, transmitidas diariamente por diversas estações.
Começam a aparecer suspeitas credíveis de a administração estadual estar a ocultar o número de mortes por covid-19 entre residentes dos lares de idosos.
13 de dezembro -- Lindsey Boylan, antiga conselheira económica do governador, declara ter sido sexualmente assediada pelo governador "durante muitos anos" e alega que o ambiente de trabalho é "tóxico". A administração nega.
2021
28 de janeiro -- Um relatório da procuradora-geral do Estado conclui que a administração não revelou corretamente quantos residentes de lares de idosos morreram em hospitais por covid-19. O documento estima que o número de mortes de idosos em lares pode ser mais de 50% mais do que as autoridades afirmam.
Uma assistente da administração de Cuomo, a secretária Melissa DeRosa, afirma que alguns dados sobre as mortes de idosos em lares não tinham sido partilhados com os legisladores estaduais por receio do então Presidente dos EUA, Donald Trump.
Em fevereiro, o Governo estadual admite que em vez de 8.500 vítimas mortais em lares de idosos inicialmente reportadas, o número real estará próximo das 15 mil, devido a uma "recategorização" - inicialmente, eram contadas apenas as vítimas mortais em lares e não as mortes que ocorriam já em hospital.
27 de fevereiro - Charlotte Bennett, antiga assessora executiva e conselheira de políticas de saúde, relata ao jornal New York Times avanços indesejados do governador, perguntas sobre a vida sexual e um beijo na boca sem consentimento. No mesmo dia, Cuomo reage com uma declaração escrita, negando qualquer comportamento impróprio com a assistente.
28 de fevereiro - O 'mayor' da cidade de Nova Iorque, Bill de Blasio, faz uma declaração contra o comportamento do governador e pede investigações sobre a má conduta no local de trabalho e sobre as mortes nos lares de idosos.
01 de março - a Procuradora-geral do Estado, Letitia James, confirma ter autorização do executivo para uma investigação a alegações de assédio sexual contra o governador.
01 de março -- New York Times publica mais um relato de uma mulher, Anna Ruch, de toques indesejados e desconfortáveis pelo governador, desmentidos por Cuomo.
02 de março -- Seis legisladores estaduais defendem a abertura de um processo de 'impeachment' (destituição) ao governador.
06 de março -- A Assembleia e o Senado do Estado adotam uma medida para anular os poderes extraordinários do governador em estado de emergência
06 de março -- O jornal Washington Post publica um relato de conduta inapropriada do governador, relatado por Karen Hinton, antiga consultora no Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano, que Cuomo liderou entre 1997 e 2001.
06 de março - O jornal The Wall Street Journal publica um relato de conduta inapropriada do governador, por Ana Liss, antiga ajudante de Cuomo.
11 de março -- A Assembleia do Estado autoriza a abertura de um inquérito sobre o governador em matéria de assédio sexual, um primeiro passo em direção à destituição.
31 março -- Legalização do uso recreativo de marijuana em todo o Estado.
Maio - Cuomo ordena o levantamento gradual de restrições e medidas impostas em resposta à covid-19. As restrições são levantadas quase totalmente a 15 de junho.
03 de agosto -- A investigação pela procuradoria-geral do Estado de Nova Iorque é concluída e aponta provas de que Andrew Cuomo assediou, pelo menos, 11 mulheres.
03 de agosto - Joe Biden, Presidente dos EUA e do mesmo partido político, declara na televisão que Andrew Cuomo devia demitir-se. No mesmo dia, quatro governadores democratas, dos Estados vizinhos Connecticut, Nova Jérsia, Pensilvânia e do Estado de Rhode Island, assinam uma declaração conjunta a apelar à demissão de Cuomo.
10 de agosto - Andrew Cuomo anuncia a demissão do cargo de governador, em efeito a partir de 24 de agosto. Numa conferência de imprensa, Cuomo argumenta que houve "mudanças geracionais ou culturais" que não conseguiu entender e pede desculpas a todas as mulheres afetadas, assim como às três filhas.
24 de agosto - Andrew Cuomo sai do Governo e dá lugar à vice-governadora Kathy Hochul, que se vai tornar primeira mulher a governar o Estado.
Leia Também: Governadora de Nova Iorque anuncia candidatura à reeleição em 2022
Descarregue a nossa App gratuita.
Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.
* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com