No seu relatório trimestral, referente aos meses de abril, maio e junho, a divisão de direitos humanos da Minusma apontou também que através dos "ditos acordos de não-agressão ou reconciliação", os rebeldes estão a impor a sua versão rigorosa do islão em certas áreas do centro do país, noticia hoje a agência France-Presse (AFP).
"Entre abril e junho, pelo menos 527 civis foram mortos, feridos ou raptados, um aumento global de mais de 25% em comparação com o primeiro trimestre (421)", sendo a maior parte no centro do país, de acordo com o relatório.
De acordo com as Nações Unidas, 54% dos mortos, feridos e raptados são atribuídos ao Grupo de Apoio ao Islão e aos Muçulmanos (GSIM), filiada à Al-Qaida, e de outras organizações 'jihadistas', como o grupo Estado Islâmico no Grande Saara (EIGS).
O relatório registou 156 raptos atribuídos a 'jihadistas', visando em particular "pessoas consideradas ou suspeitas de serem informadores ou próximos das forças malianas e/ou internacionais".
O documento alertou que o domínio territorial do GSIM "aumentou no centro do Mali, com uma notável mudança nas suas atividades em Ségou e Sikasso, junto à fronteira com o Burkina Faso".
Os habitantes das zonas controladas por estes grupos ou que tenham celebrado acordos com estes "sofreram certamente menos ataques físicos", mas estão sujeitos ao pagamento de um "imposto sobre o gado, empresas e culturas" e as mulheres e raparigas têm a obrigação de utilizarem um véu, sob pena de serem açoitadas, acrescentou o documento da ONU.
Por outro lado, milícias e grupos comunitários de autodefesa são responsáveis por 20% dos abusos.
Uma das milícias, o grupo de caça dogo Dan Nan Ambassagou, realizou 54 raptos para "forçar os membros da sua comunidade a apoiá-la financeiramente", tendo exigido resgates "que em certas circunstâncias podiam chegar aos quatro milhões de francos CFA [cerca de 6.100 euros]".
Por sua vez, o Exército maliano e as forças internacionais são responsáveis por 9% e 6%, respetivamente, do número total de abusos contra civis.
A instabilidade que afeta o Mali começou com o golpe de Estado em 2012, quando vários grupos rebeldes e organizações fundamentalistas tomaram o poder do norte do país durante 10 meses.
Os fundamentalistas foram expulsos em 2013 graças a uma intervenção militar internacional liderada pela França, mas extensas áreas do país, sobretudo no norte e no centro, escapam ao controlo estatal e são, na prática, geridas por grupos rebeldes armados.
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 4.000 pessoas foram mortas em ataques terroristas em 2019 no Mali, Burkina Faso e Níger, tendo o número de pessoas deslocadas aumentado 10 vezes, ficando próximo de um milhão.
Além da presença de grupos terroristas como o Estado Islâmico no Grande Saara e o Grupo de Apoio ao Islão e aos Muçulmanos, filiado na Al-Qaida, o Mali é também palco de instabilidade política.
Independente desde 1960, o Mali viveu, em agosto do ano passado, o quarto golpe militar na sua história, depois dos episódios ocorridos em 1968, 1991 e em 2012.
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