Fugiu das ameaças de tortura e prisão há uma década. No Irão, Shoan Vaisi cresceu numa família que dava muita atenção à política, foi membro de uma organização de esquerda, organizou manifestações e leituras de livros proibidos. Fez campanha sobre a igualdade de direitos humano, e reivindicou o fim da opressão da minoria curda.
Com 20 anos, viu o perigo a apertar e um amigo ser preso. Decidiu que tinha de abandonar o país. Durante quase seis meses, o antigo lutador profissional, fez tudo para chegar à Alemanha, passando pela Turquia e Grécia.
"Pus o pé na Alemanha em julho de 2011 e a política foi precisamente o que me fez abandonar o meu país", recordou à agência Lusa, adiantando que, na altura, não falava uma palavra de alemão.
Aprendeu o idioma à noite, tentou conseguir equivalências para prosseguir os seus estudos e começou a trabalhar. Em 2014 uniu-se ao partido "Die Linke" (A Esquerda), participando ativamente na política. A candidatura ao parlamento alemão surge depois de Tareq Alaows, um refugiado sírio, ter abandonado a corrida.
"Ele desistiu da corrida depois de ter sido pressionado e ameaçado por nazis e por pessoas da extrema-direita. Depois desta decisão, decidi concorrer, já que considero que as pessoas de extrema-direita não devem condicionar a forma como se faz política neste país", revelou à agência Lusa.
Não deixar esquecer o tema dos refugiados durante a campanha eleitoral foi outro dos objetivos, numa altura que continuam a chegar imagens de pessoas que tentam fugir ao regime dos talibãs do Afeganistão.
"Com a minha candidatura queria enviar um sinal claro de que somos uma sociedade diversa, que os refugiados fazem parte da nossa sociedade e, naturalmente, têm de participar politicamente, têm de apresentar os seus temas, de fazer parte dos processos políticos e da vida política", sublinhou.
Shoan Vaisi acredita que, "idealmente, o parlamento deve representar toda a sociedade", algo que, "não está a acontecer na Alemanha".
"Temos muito poucas mulheres, poucas pessoas com antecedentes migratórios, e os refugiados não estão representados de nenhuma forma", lamentou.
Cidadão alemão desde 2017, a viver na cidade Essen, no estado da Renânia do Norte-Vestefália, Vaisi já definiu dois objetivos caso seja eleito no dia 26 de setembro.
"Defendo uma política de refugiados humanitária, o que implica refugiados sejam resgatados e ajudados. Uma política que evita as causas da migração, não a migração em si. Isso é algo que defendo", definiu.
"Além disso, sou assistente social de profissão e, portanto, oponho-me veementemente à pobreza infantil. Creio que é inaceitável que as crianças tenham de crescer na pobreza, num país rico como a Alemanha", sustentou.
A Alemanha vai a votos no próximo domingo, dia 26 de setembro, para escolher o sucessor de Angela Merkel.