Oposição aponta tolerância como condição para manter paz em Moçambique
A Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), os dois principais partidos da oposição, apontaram hoje a tolerância política como condição para a manutenção da paz no país.
© Lusa
Mundo Moçambique
"A paz em si requer uma entrega de todos para um objetivo comum: que é de aceitar o outro. E para que isso aconteça é necessário que haja tolerância política", declarou à Lusa Lutero Simango, líder parlamentar do MDM, a terceira força política com assento na Assembleia da República.
O responsável falava à margem de um debate sobre a consolidação da paz e reconciliação em Moçambique, evento organizado pelo Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD) e juntou políticos e especialistas para debater o tema em Maputo.
Para Lutero Simango, os ciclos de violência que o país assiste após pleitos eleitorais são resultado do sentimento de exclusão, um problema que só será ultrapassado quando os dirigentes aprenderem a aceitar a diferença de pensamento.
"Todos temos as nossas responsabilidades neste processo, cada um na sua área ou especialidade, de contribuir para que a democratização de Moçambique seja real", frisou Simango.
Também o porta-voz da Renamo, José Manteigas, entende que a falta de tolerância política é um dos principais entraves para a manutenção da paz em Moçambique.
"Todos os acordos de paz que assinamos mostram que queremos, como moçambicanos, a paz, mas falta vontade política das lideranças para que se garanta realmente a manutenção da mesma", declarou Manteigas.
Para o porta-voz da Renamo, principal partido da oposição, os moçambicanos devem sentir que pertencem à nação e, como resultado, lutar para que os seus direitos sejam observados.
"Se os dirigentes deste país não aceitarem a democracia e o Estado de direito, teremos muitas conferências nacionais e internacionais, mas a paz será sempre afugentada", salientou José Manteigas.
Durante 16 anos, Moçambique viveu uma guerra civil, que opôs o Exército governamental e a Renamo, tendo terminado com a assinatura do Acordo Geral de Paz, em Roma, em 1992, entre o então Presidente Joaquim Chissano e Afonso Dhlakama, líder histórico da Renamo, que morreu em maio de 2018.
Em 2013 sucederam-se outros confrontos entre as partes, durante 17 meses, e que só pararam com a assinatura, em 05 de setembro de 2014, do Acordo de Cessação das Hostilidades Militares, entre Dhlakama e o antigo chefe de Estado Armando Guebuza.
Alguns anos depois, em 06 de agosto de 2019, assiste-se ao Acordo de Paz e Reconciliação Nacional, o terceiro, assinado entre o atual Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, e o líder da Renamo, Ossufo Momade, prevendo, entre outros aspetos, a Desmilitarização, Desarmamento e Reintegração (DDR) do braço armado do principal partido de oposição.
O país volta a atravessar um período conturbado, marcado por conflitos armados no centro e norte.
Na região centro, a autoproclamada Junta Militar, um grupo dissidente da Renamo chefiado por um antigo líder de guerrilha do partido, tem protagonizado ataques armados, incursões que já causaram a morte de pelo menos 30 pessoas desde 2019.
No Norte, em Cabo Delgado, as forças governamentais, com apoio do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), enfrentam uma insurgência armada que provocou uma crise humanitária com mais de 3.100 mortos, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 817 mil deslocados, segundo as autoridades moçambicanas.
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