O Sudão é governado por um executivo interino misto, que conta com civis e militares, desde 2019, depois do afastamento do então Presidente, Omar al-Bashir, que foi o culminar de quatro meses de protestos.
Desde aí, as consequências têm sido voláteis. Há poucos dias, um outro grupo mobilizou-se em apoio aos líderes militares, tendo o protesto de hoje sido uma resposta.
"Vamos marcar, com os nossos protestos, uma nova onda de revolta popular que vai abrir caminho para uma liderança totalmente civil e democrática", refere uma declaração da Associação de Profissionais Sudaneses, grupo que liderou a revolta que se iniciou em dezembro de 2018 e que pediu grandes manifestações para hoje, citada pela agência Associated Press (AP).
Milhares de homens e mulheres responderam ao apelo da associação e marcharam hoje pela capital, agitando a bandeira sudanesa e entoando cânticos de liberdade e revolução.
As tensões entre militares e civis intensificaram-se depois de as autoridades interinas terem dito que frustraram uma tentativa de golpe de Estado dentro das Forças Armadas -- tendo acusado al-Bashir de ser leal à tentativa de golpe.
O anúncio das autoridades despertou também, entre os civis, o receio de que os militares pudessem sequestrar a transição do país para um regime democrático civil.
Na semana passada, o primeiro-ministro sudanês, Abdallah Hamdok, admitiu que o país está a atravessar uma das piores crises políticas desde o início do período de transição democrática.
"Não estou a exagerar se disser que esta é a pior e mais grave crise que estamos a atravessar e que ameaça a transição", afirmou Hamdok num discurso à nação, referindo-se à tensão entre militares e civis após a tentativa de golpe de Estado preparado, segundo o Governo, pelos "restos" do regime do antigo Presidente Omar al-Bashir.
Face a esta situação, Hamdok diz ter realizado "várias reuniões com todas as componentes das instituições de transição para dialogar e encontrar pontos comuns entre as partes" com o objetivo de "assegurar a unidade do país".
Após as consultas, o primeiro-ministro sudanês indicou que foi acordado um roteiro de 10 pontos entre os quais destacou o trabalho em "todas as instituições da transição longe de disputas", assim como a "não tomada de medidas unilaterais", defendendo que o país "não aguenta mais conflitos".
As declarações de Hamdok surgem dias depois de o general Abdelfatah al Burhan, presidente do Conselho Soberano, o mais alto órgão executivo no processo de transição sudanês, ter dito que não há soluções para a situação atual do Sudão à exceção de "dissolver o Governo" e "alargar a base dos partidos políticos no Governo de transição".
Após a tentativa, civis e militares, que alternam o poder até às eleições estabelecidas pelo acordo alcançado após o derrube de al-Bashir, em 2019, atiraram diferentes acusações quanto à autoria.
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