De ciências a cidadania, o alerta para a crise climática é dado na escola

De ciências naturais a cidadania e desenvolvimento, as alterações climáticas são cada vez mais abordadas na escola, relatam professores e estudantes que sublinham o avanço, mas defendem que a urgência do problema exige mais.

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Lusa
30/10/2021 10:23 ‧ 30/10/2021 por Lusa

Mundo

COP26

A partir de domingo, as questões climáticas vão reunir a generalidade dos países do mundo na 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26), que vai decorrer em Glasgow, Escócia, até 12 de novembro.

Paralelamente à discussão no espaço público, nas escolas há muito que os currículos preveem a aprendizagem de temas que, de forma mais ou menos direta, estão relacionados com o agravamento das alterações climáticas e com a sustentabilidade do planeta.

Uma das disciplinas em que os alunos mais aprendem sobre o ambiente é em ciências naturais onde no estudo dos ecossistemas se aprende sobre as perturbações ao seu equilíbrio e o impacto do ser humano, a poluição, os recursos naturais e a sua exploração.

"O 8.º ano é um ano em que se trabalha mesmo muito o ambiente", disse à Lusa Margarida Carreira, professora de ciências no 3.º ciclo, acrescentando que, antes disso, a aprendizagem dos recursos naturais no 7.º já põe os alunos a falar sobre sustentabilidade.

Em outra disciplina, as questões climáticas são protagonista no 9.º ano de escolaridade: "Ambiente e sociedade" é um dos dois grandes temas em que está organizado o currículo de geografia para esse ano.

"Aí, existe uma grande correlação com a educação ambiental. O segundo subtema, que é alterações ao ambiente natural, leva-nos a abordar muitas das questões relacionadas com os problemas ambientais", descreveu o professor Carlos Tiago, que leciona a disciplina.

Questões como o desenvolvimento sustentável, a pegada ecológica ou o impacto ambiental fazem parte desse ponto do programa, que inclui também os vários riscos e catástrofes naturais.

Nestas disciplinas, as questões ambientais, que depois são aprofundadas no ensino secundário, são parte integrante dos currículos há muito tempo.

Por isso, Nuno Tigre, que também dá aulas de geografia no 3.º ciclo, defende que "nesse aspeto, a escola sempre esteve um bocadinho à frente da sociedade", uma vez que já relevava essas questões antes de elas ganharem dimensão no espaço público, não só nos currículos, mas também na componente extracurricular e deu como exemplo o programa Eco Escolas, desenvolvido desde 1996 pela Associação Bandeira Azul da Europa nas escolas portuguesas.

Recentemente, com a disciplina de cidadania e desenvolvimento, que começou a ser lecionada no ano letivo de 2017-18, com o objetivo de promover uma sociedade mais justa e inclusiva através da educação, a educação ambiental ganhou um novo palco, sendo um dos seis domínios obrigatórios, que incluem também o desenvolvimento sustentável.

Da aprendizagem das causas das alterações climáticas à sensibilização para a adoção de comportamentos sustentáveis, o objetivo é que estas e outras questões sejam trabalhadas no âmbito da cidadania e desenvolvimento, que funciona especificamente enquanto disciplina apenas nos 2.º e 3.º ciclos, sendo trabalhada de forma transversal em toda a escolaridade.

"É evidente que a cidadania veio dar mais um contributo e a articulação entre as várias disciplinas começa a ser maior. É uma evolução positiva", elogiou Nuno Tigre.

Essa evolução parece acompanhar, por um lado, a cada vez maior relevância do tema fora das quatro paredes da escola, uma consequência do próprio agravamento da crise climática, mas também a sensibilização dos próprios jovens, que ainda na semana passada se mobilizaram para mais uma greve climática estudantil.

Da parte dos alunos, apesar de reconhecerem um esforço das escolas para integrarem o tema nos seus projetos, aquilo que se faz atualmente ainda é insuficiente. 

Para Andreia Galvão, porta-voz do movimento Greve Climática Estudantil, as aprendizagens em contexto escolar são ainda muito limitadas e a jovem sente que não se aprende "verdadeiramente qual é o impacto e a complexidade da crise climática", muito menos de forma transversal.

Por isso, os alunos acabam por ir procurar informação noutras vias e Andreia defende que, principalmente pela urgência do tema e do interesse que manifestam, os jovens se possam envolver mais no processo de ensino e aprendizagem que de, a este respeito, possibilitar também alguma troca de conhecimentos, sobretudo noutras disciplinas em que o ambiente não entra no programa.

"Acho que as escolas estão a tentar acompanhar aquilo que é uma preocupação dos alunos e acho que isso pode permitir que esse seja um espaço onde realmente se fale, porque as pessoas estão interessadas em ter essa conversa", acrescenta.

Aqui, os professores também concordam na necessidade de maior reforço. Carlos Tiago acredita que o passo dado com a criação da disciplina de cidadania e desenvolvimento foi um passo importante, mas defende que tenha mais tempo letivo, enquanto Nuno Tigre quer que o tema seja discutido de forma mais transversal.

"É sempre insuficiente. Esse tema é tão vasto e tão importante que não podemos considerar que está tudo feito. Ainda se pode investir muito no desenvolvimento dessas temáticas. mesmo a nível de outras disciplinas que não estão diretamente ligadas a estes conteúdos", sustentou.

A professora de ciências, Margarida Carreira, sublinha a evolução nas últimas três décadas, desde que começou a dar aulas, e relata que cada vez mais as escolas preocupam-se em tratar as questões climáticas de forma transversal e em envolver os alunos na discussão.

O próprio ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, parece alinhado com esta prioridade e, num encontro 'online' sobre a educação climática em junho, defendeu que "uma educação de sonho para o clima é aquela que coloca os alunos no centro da mudança nas nossas sociedades".

Leia Também: COP26. Mitos e factos em torno das alterações climáticas

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