As companhias argumentam que o Brasil não pode perder a oportunidade de usar a sua vasta riqueza natural na luta contra o aquecimento global.
O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), que afirma representar as empresas responsáveis por quase metade da economia do país sul-americano, pediu ao Governo que reprima a desflorestação ilegal e alivie a sua dura postura sobre os mercados de carbono, demandas essas que parecem estar a dar frutos.
Na semana passada, o Brasil surpreendeu os observadores ao aderir a uma promessa internacional de eliminar a desflorestação ilegal até 2028 e anunciou uma nova meta climática com redução das emissões de carbono "mais ambiciosa" já para 2030, com o objetivo de alcançar a neutralidade de carbono até 2050.
"Temos sinais positivos do Governo", avaliou Marina Grossi, presidente do grupo empresarial CEBDS, que inclui as gigantes da mineração Anglo American e Vale, e as petrolíferas Petrobras e Shell.
Mrina Grossi afirmou que o setor privado do Brasil acredita que o país pode atingir a sua meta de atingir zero emissões até 2050 - uma data recentemente antecipada em 10 anos - protegendo a enorme absorvente de carbono que é a floresta Amazónia.
"É uma grande oportunidade", disse Marina numa entrevista concedida hoje à Associated Press (AP), acrescentando que o "grande elefante na sala é a desflorestação ilegal".
O Governo brasileiro deu pouca atenção a pedidos semelhantes de grupos ambientalistas, mas Marina Grossi declarou que as grandes empresas podem estar numa melhor posição para conquistar o executivo de Bolsonaro, que enfrenta eleições no próximo ano.
Além de ser capaz de aumentar os seus esforços de redução de emissões salvando a Amazónia, o Brasil pode beneficiar-se muito se os países chegarem a um acordo sobre a questão dos mercados de carbono na COP26, que decorre em Gasglow, na Escócia.
Conhecido como 'Artigo 6', os esforços para resolver o problema têm iludido os negociadores durante anos, mas as autoridades estão otimistas de que um avanço pode ser possível em Glasgow.
Um acordo que forneça regras rigorosas para os mercados de carbono pode tornar o Brasil num destino privilegiado no futuro para países e empresas que desejam compensar as suas próprias emissões excedentes.
Há sinais de que o Governo brasileiro abrirá mão de suas reivindicações de antigos créditos de carbono. Fontes governamentais envolvidas nas negociações em Glasgow disseram à AP que a decisão de fazê-lo já foi tomada.
Falando num painel de discussão, o ministro do Meio Ambiente do Brasil, Joaquim Leite, destacou a necessidade de maior apoio financeiro para as nações em desenvolvimento, de forma a ajudar a alcançar uma transição verde global.
"Precisamos de mais recursos do que apenas 100 mil milhões de dólares (86,2 mil milhões de euros) anuais. Saiu há dias um estudo de um banco que já fala em cinco biliões de dólares (4,31 biliões de euros) por ano, tanto público quanto privado", disse Leite, acrescentando que o Brasil precisa ter políticas claras e incentivos para fomentar o desenvolvimento verde.
"Quando planeio projetos verdes, preciso ser mais ágil na aprovação desses projetos, tornando-os realidade", acrescentou o governante.
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