Numa conversa telefónica com Vladimir Putin, a chanceler alemã cessante considerou "inaceitável e desumana a instrumentalização de migrantes" na fronteira entre a Polónia e a Bielorrússia, onde milhares de pessoas estão concentradas em acampamentos precários, e sob um frio glaciar, à espera de uma oportunidade para entrar na fronteira polaca e, consequentemente, na União Europeia (UE).
O ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Heiko Maas, já tinha defendido a imposição de novas sanções da UE contra a Bielorrússia, acusando o Presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, de explorar "sem escrúpulos" os migrantes, ao enviá-los para a fronteira polaca.
Varsóvia tem acusado a Bielorrússia, mas também a Rússia, de usar os migrantes para desestabilizar a UE.
Na terça-feira, o primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki, acusou abertamente o Presidente russo de ser o "patrocinador" da vaga crescente de migrantes, atraídos com vistos pela Bielorrússia para passarem a sua fronteira em direção à UE, como forma de retaliação pelas sanções impostas por Bruxelas contra o regime de Minsk.
A acusação foi, no entanto, rejeitada pela Rússia, tendo o Kremlin (Presidência russa) considerado hoje "inaceitável" ser responsabilizado pela situação.
Numa conferência de imprensa realizada hoje pelo ministro dos Negócios Estrangeiros russo, em conjunto com o seu homólogo bielorrusso, Serguei Lavrov referiu que a UE não se deve deixar arrastar para um confronto com Minsk e Moscovo na sequência da crise migratória.
"Espero sinceramente que os europeus responsáveis, as grandes potências europeias, tenham vontade e não sejam arrastados para uma espiral (de confronto) que seria extremamente perigosa", afirmou o chefe da diplomacia russa.
Segundo Lavrov, a situação na fronteira entre a Bielorrússia e a Polónia deve ser resolvida através do diálogo, garantindo que as autoridades de Minsk estão abertas a negociações.
"A Bielorrússia propôs, mais de uma vez, e já na atual situação na fronteira, a realização de consultas e a resolução de problemas com base no Direito Internacional", disse.
O chefe da diplomacia bielorrussa, Vladimir Makei, considerou, por seu lado, que a culpa dos atuais problemas "não é da Bielorrússia, mas sim da Europa".
Makei garantiu que Minsk recebeu "certos sinais" de Bruxelas e de outras capitais europeias sobre a vontade de dialogar, mas "de forma confidencial".
"Estamos abertos ao diálogo e à solução de problemas por meio do diálogo, incluindo de questões delicadas", disse, acusando, logo de seguida, a Polónia de ter colocado "15.000 militares" na fronteira com a Bielorrússia para impedir a entrada de "mulheres e crianças" na Europa.
"Para mim, isto é uma coisa inimaginável que viola todas as regras", concluiu.
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