Deputados portugueses notam ausência de países poluidores na COP26
A ausência de grandes poluidores da cimeira do clima e a manifesta falta de ambição em algumas metas climáticas, apesar de alguns acordos relevantes, dominam as conclusões de deputados portugueses que assistem à cimeira do clima da ONU.
© Reuters
Mundo COP26
O social-democrata Bruno Coimbra, que veio à cimeira integrado numa delegação do parlamento português, destacou que a COP26 deixa "um sabor agridoce" porque apesar de "acordos bons", as ausências da China e da Rússia e a falta de adesão de outros países que estão entre os mais poluidores prejudicam a ambição da conferência das Nações Unidas sobre alterações climáticas.
O PSD ainda mantem esperança em "avanços interessantes" até ao fim da cimeira, salientando que neste momento, olhando para as contribuições nacionais, "o objetivo [de contenção do aumento da temperatura global até 2100] de 1,5 graus estaria longe de ser cumprido".
Bruno Coimbra considerou que acordos como o estabelecido para combater a desflorestação ou sobre o fim de financiamento aos combustíveis fósseis "saem diminuídos: o da desflorestação porque "surge no incumprimento de outro" e o dos combustíveis fósseis porque "infelizmente não tem os grandes poluidores que são os Estados Unidos, China" e especialmente Rússia e China, cujas ausências na cimeira de líderes mundiais "marcaram muito" a avaliação da cimeira.
O deputado do PSD afirmou que Portugal se apresentou em Glasgow "com outra capacidade para enfrentar as questões climáticas, com uma Lei de Bases do Clima, uma criação da Assembleia da República que coloca o país na dianteira dos desafios que tem que enfrentar".
O socialista Nuno Fazenda de Almeida disse à Lusa que "o menos positivo" da cimeira é a ausência de presenças de alto nível da China e da Rússia e afirmou que de Glasgow se conclui que "o mundo não está ainda a dar resposta necessária e é preciso trabalhar a um passo mais acelerado, especialmente os países mais desenvolvidos".
Pela positiva, destacou "o regresso dos Estados Unidos à causa climática na COP26", os acordos alcançados e a "mobilização de pessoas e instituições em torno da causa climática, que gera pressão sobre os governos e instituições para agirem mais depressa".
A socialista Hortense Martins, que participou na COP26 como membro da União Interparlamentar, afirmou à Lusa que dos trabalhos de uma cimeira "com altos e baixos nas expetativas" vai surgindo "um consenso para que quem necessita possa ser apoiado na transição" para economias de baixas emissões e na adaptação aos efeitos das alterações climáticas
"Os que precisam de mais recursos são os menos poluidores", indicou, considerando que há esperança de um resultado positivo nestes aspetos, movido "pelas vozes dos jovens e pela emergência climática".
Para o CDS, o balanço de Glasgow será "positivo, apesar de os últims dias ainda serem decisivos, porque se demonstra que a liderança está nas instituições, nos governos e não na rua, como alguma da esquerda mais radical tem defendido", disse à Lusa o deputado centrista Pedro Morais Soares.
Para o parlamentar, seobressai "a mobilização de muita gente nova" na cimeira do clima, a fazer "pressão positiva sobre os governos, empresas e organizações não governamentais para se assumirem compromissos alcançáveis e metas de monitorização" dos resultados obtidos.
Morais Soares contrapôs a "ausência preocupante da China e da Rússia, dois grandes poluidores mundiais", mas considerou que se pode tirar de Glasgow "um despertar de consciência de futuros líderes das instituições e de decisores políticos mais bem preparados", a demonstrar "o que é possível alcançar com o esforço de todos".
O deputado do Bloco de Esquerda Nelson Peralta, afirmou ainda esperar até ao fim da COP26 "alguns avanços na adaptação, com mais dinheiro, que não vá todo para mitigação, e vá para o sul global" que enfrenta já os maiores problemas de fome e até de perda de território devido às alterações climáticas.
No entanto, destacou que continuará a faltar "uma resposta digna à dimensão do problema" porque os países mais poluidores "não fizeram o seu trabalho de casa, não cortaram emissões e o aumento da temperatura global está muito acima do esperado por Paris (acordo de Paris de 2015 sobre redução de emissões de gases com efeito de stufa para conter o aumetno da temperatura gloobal)".
Apontou ainda que a conferência está "inundada por interesses da indústria fóssil: há 503 delegados de empresas do setor, mais do que qualquer delegação nacional, portanto com grande pendor da indústria e pouco dos movimentos sociais".
A deputada do PAN Inês Sousa Real, afirmou que a melhor expetativa para a COP26, de "um compromisso mais efetivo" no apoio aos países mais afetados pela crise climática para se adaptarem, "não está a acontecer", tal como "metas mais ambiciosas" para reduzir emissões de gases com efeito de estufa.
O PAN salienta que se continua a "ignorar o 'porco' na sala" que representa a indústria pecuária e as áreas da agricultura "intensiva e super-intensiva" e o seu contributo para as emissões globais e Inês Sousa Real defendeu que "os líderes mundiais deviam todos comprometer-se com metas mais ambiciosas", senão só será possível "correr atrás do prejuízo".
Para a deputada não inscrita Joacine Katar Moreira, a COP26 foi uma conferência "dos países do norte a falar uns para os outros e com o olhar nas suas necessidades".
"Houve uma enorme promessa de financiamento que não aconteceu. Os países considerados desenvolvidos, que hoje desejam partilhar a responsabilidade com os países do sul, impondo medidas de descarboniação da indústria, é que necessitam de assumir um esforço maior. Os países do sul não têm recursos para o fazer de uma maneira eficaz", argumentou.
O deputado de Os Verdes José Luís Ferreira considerou que progressos em Glasgow, só "entre aspas", porque se está "muito longe do Acordo de Paris" e a "questão crónica do financiamento climático está sem qualquer avanço".
Por isso, considerou que a COP26 se reduz a "uma megaoperação mediática à escala mundial", e que "o único elemento positivo é que permitiu que o mundo tomasse consciência de que os governos estão a falhar em toda a linha e não estão a cumprir com Paris".
Com os compromisso como estão, chegar-se-á a 2030 sem perspetiva de conseguir cumprir a meta de 1,5 graus de aquecimento global até fim do século, porque "não foi discutido inflacionar as ambições" e os avanços, "se é que o são, são só intenções".
O eurodeputado comunista João Pimenta Lopes, que passou por Glasgow para participar na manifestação de sábado passado, que juntou dezenas de milhares de pessoas a exigir ação climática, disse à Lusa que o resultado mais certo da cimeira será "mais do mesmo".
Pimenta Lopes defendeu que o mais necessário são mudanças no sistema de produção mundial, como a nacionalização da produção de energia - "única maneira de garantir o interesse público" -e políticas que assegurem o controlo público dos transportes coletivos e que ficarão sem resposta as reivindicações de jovens e ativistas de todo o mundo, onde está a verdadeira "ambição climática".
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