O "Governo está a falhar nas suas obrigações para com a sua população" e o país corre o risco de se tornar um Estado falhado, afirmou Olivier De Schutter, relator especial da ONU para os direitos humanos e a pobreza extrema.
"Vi cenas no Líbano que nunca imaginei ver num país de rendimento médio", acrescentou De Schutter numa conferência de imprensa, após uma missão de doze dias no país.
O Governo libanês, formado em setembro para tentar tirar o país da crise económica, ainda não tomou medidas sérias para combater a pobreza, que atinge atualmente cerca de 80% da população.
Depois de suspender totalmente os subsídios aos combustíveis, as autoridades estão a reduzir gradualmente os subsídios aos medicamentos e à farinha. A libra libanesa perdeu 90% do seu valor no mercado negro desde o início da crise no outono de 2019.
Um programa de cartão de racionamento, há muito prometido para ajudar os mais pobres, ainda não foi iniciado, lutando as autoridades, sem dinheiro, para garantir um financiamento do Banco Mundial (BM).
"Enquanto a população tenta sobreviver no dia a dia, o Governo perde um tempo precioso", disse De Schutter, criticando "a inércia do Governo diante desta crise sem precedentes que mergulhou a população na miséria".
A inflação é galopante e, segundo os últimos dados do Governo libanês, o preço dos alimentos básicos quase quadruplicou num ano.
No mês passado, a organização Save the Children advertiu que "as crianças do Líbano estão a saltar muitas refeições enquanto os pais mal conseguem comprar alimentos básicos".
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