Iniciativa Médica 3M aposta em promover formação em paliativos nos PALOP
Aumentar a formação de clínicos dos PALOP em cuidados paliativos é o objetivo da Iniciativa Médica 3M depois de uma ação em Moçambique onde foi possível plantar "algumas sementes" sobre como otimizar recursos para evitar sofrimento.
© Global Imagens
Mundo Saúde
"Deixámos e plantámos algumas sementes", relatou à Lusa Hugo Ribeiro, fundador da Iniciativa Médica 3M (IM3M) que, a convite do Hospital Central de Maputo promoveu, entre 08 e 12 de novembro, o Curso de Formação em Geriatria, Dor e Cuidados Paliativos, tendo certificado 40 profissionais.
Ao longo de uma semana, uma equipa de 11 médicos portugueses, de especialidades como Anestesiologia, Medicina Geral e Familiar, Medicina Interna, Cirurgia Vascular, Medicina Física e de Reabilitação, Reumatologia promoveu a troca de experiências e o intercâmbio de protocolos de atuação na área da dor e cuidados paliativos.
Recém-chegado de Moçambique, o médico acredita ter conseguido transmitir, junto dos profissionais de saúde participantes, como otimizar a utilização de medicação e outros recursos de tratamento para evitar o sofrimento.
"Tivemos presentes colegas de vários hospitais, não só do hospital de Maputo, mas de outras regiões de Moçambique, que levaram para os seus hospitais novos conhecimentos. E eles próprios o verbalizaram e disseram que não esperavam que, com a medicação e recursos que têm disponíveis, pudessem reduzir imenso a dor, a dispneia, os sintomas que causam sofrimento", contou o também coordenador da Equipa Comunitária de Suporte em Cuidados Paliativos de Vila Nova de Gaia.
O próprio Hospital Central de Maputo partilhou na sua página na rede social Facebook como o curso visou "melhorar a qualidade dos serviços prestados ao paciente visto serem os cuidados paliativos, uma área ainda nova e em desenvolvimento no país".
Ainda que o objetivo traçado de deixar "um desenho de uma rede de paliativos e unidades de dor" não tenha sido cumprido, até pela forma como o sistema de saúde moçambicano está estruturado, Hugo Ribeiro realça terem sido criados "bastantes laços" e ter ficado a promessa de uma nova ação naquele país.
A par disso, ficou a promessa da criação pela IM3M de bolsas de formação que permitam a dois clínicos virem a Portugal, no próximo ano, para estágios em equipas de cuidados paliativos de Vila Nova de Gaia e do Porto.
Depois de Moçambique está agendado para abril do próximo ano um intercâmbio de formação em Cabo Verde, tendo a IM3M recebido já manifestações de interesse de "São Tomé e Príncipe, Guiné e Angola".
"Queremos continuar com este projeto internacional com os PALOP [Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa]. Gostaríamos de poder ter mais profissionais nestes países. 40 é bom mas gostaríamos de ter um auditório com 150 ou mais para podermos otimizar os recursos", adiantou.
O médico, ainda a "mastigar a experiência" em Moçambique, quer conseguir "melhorar as próximas" para "chegar a mais pessoas" e considera que "seria importante", neste tipo de iniciativas, ter o apoio dos ministérios de saúde dos países envolvidos.
E se a realidade "muito má" moçambicana não permitiu, como queria, desenhar uma rede de cuidados paliativos, a portuguesa, apesar de "muito diferente", está a "descurar a parte mais básica da medicina e dos cuidados de saúde que é garantir que que as pessoas não sofram".
"Nós estamos focados em tratamento e controlo de doenças crónicas e muitas vezes não valorizamos o tratamento de suporte, aquele que garante que as pessoas tenham qualidade de vida, tenham felicidade", destacou.
Segundo Hugo Ribeiro, a rede de cuidados paliativos "está a crescer" em Portugal, mas ainda não consegue dar resposta suficiente aos doentes que queiram estar no domicílio, com doença avançada, ou em unidades de cuidados paliativos.
"Temos que, como Estado, entender que é uma área para apostar. Temos que criar concursos para dar a possibilidade de profissionais se dedicarem aos cuidados paliativos, como temos também de criar infraestruturas para os cuidados paliativos", defendeu, assinalando a necessidade de, nos hospitais, existirem "serviços de medicina paliativa que sejam independentes dos outros serviços".
Para o médico, Portugal não está "nem a 10%" da resposta que deveria dar "como um país desenvolvido nesta área", um país que "garanta que uma pessoa em qualquer sítio, em qualquer região, localidade, tenha resposta para a complexidade da sua doença e não a deixa sofrer desamparada".
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