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Iniciativa Médica 3M aposta em promover formação em paliativos nos PALOP

Aumentar a formação de clínicos dos PALOP em cuidados paliativos é o objetivo da Iniciativa Médica 3M depois de uma ação em Moçambique onde foi possível plantar "algumas sementes" sobre como otimizar recursos para evitar sofrimento.

Iniciativa Médica 3M aposta em promover formação em paliativos nos PALOP
Notícias ao Minuto

18:03 - 17/11/21 por Lusa

Mundo Saúde

"Deixámos e plantámos algumas sementes", relatou à Lusa Hugo Ribeiro, fundador da Iniciativa Médica 3M (IM3M) que, a convite do Hospital Central de Maputo promoveu, entre 08 e 12 de novembro, o Curso de Formação em Geriatria, Dor e Cuidados Paliativos, tendo certificado 40 profissionais.

Ao longo de uma semana, uma equipa de 11 médicos portugueses, de especialidades como Anestesiologia, Medicina Geral e Familiar, Medicina Interna, Cirurgia Vascular, Medicina Física e de Reabilitação, Reumatologia promoveu a troca de experiências e o intercâmbio de protocolos de atuação na área da dor e cuidados paliativos.

Recém-chegado de Moçambique, o médico acredita ter conseguido transmitir, junto dos profissionais de saúde participantes, como otimizar a utilização de medicação e outros recursos de tratamento para evitar o sofrimento.

"Tivemos presentes colegas de vários hospitais, não só do hospital de Maputo, mas de outras regiões de Moçambique, que levaram para os seus hospitais novos conhecimentos. E eles próprios o verbalizaram e disseram que não esperavam que, com a medicação e recursos que têm disponíveis, pudessem reduzir imenso a dor, a dispneia, os sintomas que causam sofrimento", contou o também coordenador da Equipa Comunitária de Suporte em Cuidados Paliativos de Vila Nova de Gaia.

O próprio Hospital Central de Maputo partilhou na sua página na rede social Facebook como o curso visou "melhorar a qualidade dos serviços prestados ao paciente visto serem os cuidados paliativos, uma área ainda nova e em desenvolvimento no país".

Ainda que o objetivo traçado de deixar "um desenho de uma rede de paliativos e unidades de dor" não tenha sido cumprido, até pela forma como o sistema de saúde moçambicano está estruturado, Hugo Ribeiro realça terem sido criados "bastantes laços" e ter ficado a promessa de uma nova ação naquele país.

A par disso, ficou a promessa da criação pela IM3M de bolsas de formação que permitam a dois clínicos virem a Portugal, no próximo ano, para estágios em equipas de cuidados paliativos de Vila Nova de Gaia e do Porto.

Depois de Moçambique está agendado para abril do próximo ano um intercâmbio de formação em Cabo Verde, tendo a IM3M recebido já manifestações de interesse de "São Tomé e Príncipe, Guiné e Angola".

"Queremos continuar com este projeto internacional com os PALOP [Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa]. Gostaríamos de poder ter mais profissionais nestes países. 40 é bom mas gostaríamos de ter um auditório com 150 ou mais para podermos otimizar os recursos", adiantou.

O médico, ainda a "mastigar a experiência" em Moçambique, quer conseguir "melhorar as próximas" para "chegar a mais pessoas" e considera que "seria importante", neste tipo de iniciativas, ter o apoio dos ministérios de saúde dos países envolvidos.

E se a realidade "muito má" moçambicana não permitiu, como queria, desenhar uma rede de cuidados paliativos, a portuguesa, apesar de "muito diferente", está a "descurar a parte mais básica da medicina e dos cuidados de saúde que é garantir que que as pessoas não sofram".

"Nós estamos focados em tratamento e controlo de doenças crónicas e muitas vezes não valorizamos o tratamento de suporte, aquele que garante que as pessoas tenham qualidade de vida, tenham felicidade", destacou.

Segundo Hugo Ribeiro, a rede de cuidados paliativos "está a crescer" em Portugal, mas ainda não consegue dar resposta suficiente aos doentes que queiram estar no domicílio, com doença avançada, ou em unidades de cuidados paliativos.

"Temos que, como Estado, entender que é uma área para apostar. Temos que criar concursos para dar a possibilidade de profissionais se dedicarem aos cuidados paliativos, como temos também de criar infraestruturas para os cuidados paliativos", defendeu, assinalando a necessidade de, nos hospitais, existirem "serviços de medicina paliativa que sejam independentes dos outros serviços".

Para o médico, Portugal não está "nem a 10%" da resposta que deveria dar "como um país desenvolvido nesta área", um país que "garanta que uma pessoa em qualquer sítio, em qualquer região, localidade, tenha resposta para a complexidade da sua doença e não a deixa sofrer desamparada".

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