Covid-19. Viajantes em Moçambique entre o desnorte e a revolta
Nádia Jussub, empresária moçambicana, disse à Lusa que ficou "desnorteada" porque já não sabe se pode passar o Natal com as filhas que estudam em Portugal.
© ALFREDO ZUNIGA/AFP via Getty Images
Mundo Covid-19
"Estou completamente desnorteada, nem consigo trabalhar", referiu, depois de vários países passarem a impedir a entrada de viajantes da África Austral, incluindo de Moçambique, devido ao aparecimento de uma nova variante do SARS-CoV-2, causador da covid-19.
A Comissão Europeia também anunciou a intenção de avançar com a mesma medida, embora o primeiro-ministro português, António Costa, tenha dito que nem Moçambique nem Angola constam da lista comunitária para restrição de voos.
"Fui a Portugal em agosto pôr a minha filha de 17 anos a estudar" e o plano da quadra festiva passa por uma reunião que agora se transformou numa incógnita devido às incertezas lançadas hoje.
"Como faço?", pergunta, questionando ainda - no caso de avançarem restrições - se quem não tem nacionalidade portuguesa, como ela, poderá atravessar a fronteiras para um reencontro familiar.
"Pensávamos que tudo tinha reaberto e de repente surge isto", um movimento em sentido contrário: "Será que vamos aguentar isto tudo outra vez", pergunta, no ateliê da empresa de marketing que dirige em Maputo.
Ao lado, Eugénia Santos, portuguesa, diz ter ficado "escandalizada" com as restrições que hoje começaram a ser anunciadas para viajantes de Moçambique por parte de países como Áustria, Itália, Israel e Singapura.
"Tenho tudo programado para viajar na próxima quinta-feira", para Portugal e depois "para o Canadá. Não vejo a minha filha há 3 anos", contou à Lusa.
"Espero que nada aconteça", diz, depois de ter somado prejuízos no último ano com dois voos perdidos por conta da pandemia.
Eugénia diz que até compreende que haja restrições em relação à África do Sul, onde surgiu uma nova variante, mas Moçambique vive um retrocesso no número de casos, considerando que nada justifica medidas em relação ao país.
O país lusófono registou na última semana 35 casos de covid-19 e quatro mortes.
Alexandre Costa, vice-presidente da Associação Portuguesa de Moçambique, diz que as medidas hoje anunciadas "vêm cortar as pernas, a esperança e a ambição de voltar a uma normalidade".
"Psicologicamente e financeiramente, isto está a colocar de rastos muita gente, famílias e empresas: são factos que tenho estado a acompanhar nos últimos dias", descreveu, face às viagens de avião mais caras do ano, agora colocadas em incerteza, e face a um Natal em família posto em risco.
Para muitos "tios, avós e primos", será um Natal de reencontro, após separações impostas pela pandemia.
"Temos aqui empresas portuguesas, expatriados e famílias que apostaram numa vida em Moçambique e sabemos que desde 2020 o cenário tem sido difícil e gravoso", com as companhias aéreas a deixarem cada um "por sua conta e risco", sublinhou.
"Precisamos de um tratamento mais humano", defende Alexandre Costa, para quem o reforço de medidas para prevenir contágios deve ser feito "com bom senso" sem uma "paragem total", até para evitar "sentimentos de revolta".
Hela Alemayehu, gestora da Ethiopian Airlines no aeroporto de Maputo, disse à Lusa que a companhia ainda só recebeu informação de interdição para viajantes de Moçambique por parte de Israel, mas a situação pode sofrer alterações.
Agências de viagens na capital disseram também ainda aguardar informações concretas, mantendo-se os voos que estavam marcados.
O ministro da saúde moçambicano, Armindo Tiago, disse hoje aos jornalistas que o país vai acelerar a vacinação e "melhorar e aperfeiçoar o controlo ao nível das fronteiras", com testes obrigatórios para quem não os apresentar.
Medidas a implementar mesmo sem aumento de casos em Moçambique, referiu.
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