Encerramento de fronteiras pelo ocidente é "um novo tipo de apartheid"
Organizações da sociedade civil da África Austral manifestaram-se hoje, em Maputo, indignadas com o fecho de fronteiras aos países da região, classificando a decisão do "ocidente" como "um novo tipo de apartheid".
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Mundo Covid-19
"O ocidente tem de parar de tratar os cidadãos do mundo como inimigos. O inimigo aqui é o vírus da covid-19 [...] Nós vemos isto como um novo tipo de apartheid [regime de segregação racial que durante décadas vigorou na África do Sul]", declarou Washington Katema, diretor da Rede de Defensores dos Direitos Humanos da África Austral (SAHRDN, na sigla em inglês), que congrega várias ONG regionais.
Aquele ativista falava à margem de uma cimeira organizada pela SAHRDN, que decorre desde hoje em Maputo e junta responsáveis de organizações da sociedade civil dos países da África Austral.
Para Washington Katema, a decisão de encerrar fronteiras é parte da "guerra pelas vacinas" e, como resultado, vai incrementar as desigualdades entre os povos, num momento em que a região da África Austral enfrenta grandes desafios, com destaque para pobreza.
"O ocidente tem de parar de privatizar os medicamentos e ajudar a África a atingir níveis maiores de imunização [...] Ninguém estará salvo até que todos estejam salvos", frisou Washington Katema.
Para o diretor do Centro para Democracia e Desenvolvimento (CDD), que faz parte da SAHRDN, o encerramento das fronteiras é uma decisão inaceitável e precipitada, na medida em que a nova variante (Ómicron), que "originou este pânico", precisa de mais análises científicas.
"Parece-nos uma motivação de natureza política", declarou Adriano Nuvunga, frisando que "a pandemia é global e, por isso, são necessárias soluções globais".
"Não há evidências neste momento sobre o impacto desta nova variante da covid-19. Aliás, ela foi mais sistematizada na África do Sul e com mais transparência os médicos sul-africanos alertaram o mundo, enquanto outros países, alguns do ocidente, que já tinham registado, ficaram em silêncio", frisou o ativista moçambicano, que é atualmente vice-presidente da SAHRDN.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou na terça-feira que "as proibições de viagens não vão impedir a propagação internacional" da variante Ómicron e "representam um fardo pesado para vidas e meios de subsistência", podendo "ter um impacto adverso nos esforços globais" de luta contra a pandemia".
Numa tentativa de conter a propagação da nova estirpe do SARS-CoV-2, diversos países, incluindo Portugal, fecharam fronteiras aos estrangeiros ou suspenderam e restringiram viagens internacionais, em particular para a África Austral, nomeadamente com Moçambique.
O país lusófono tem um total acumulado de 1.941 mortes e 151.594 casos de covid-19, dos quais 98% recuperados e sete internados.
A covid-19 provocou pelo menos 5.206.370 mortes em todo o mundo, entre mais de 261,49 milhões infeções pelo novo coronavírus registadas desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência France-Presse.
A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China, e atualmente com variantes identificadas em vários países.
Sob lema "Defendendo os direitos e protegendo as democracias face ao aumento das desigualdades e do autoritarismo", a cimeira vai decorrer durante dois dias em Maputo, juntando perto de 48 delegados de organizações da sociedade civil da África Austral.
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