Na sua intervenção na Cimeira para a Democracia -- um evento em formato virtual organizado pelo Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que conta com a participação de líderes de mais de uma centena de países e que termina hoje -- Guterres mostrou-se preocupado com o que disse ser "o assalto à razão e aos factos" que está a minar as democracias em diferentes partes do globo.
"Em muitas partes do mundo, vemos pessoas a afastar-se dos valores da democracia. (...) A irracionalidade está a ganhar terreno; o populismo, o nativismo, a supremacia branca e outras formas de racismo e de extremismo estão a envenenar a coesão social e as instituições democráticas", disse Guterres, no seu depoimento de cerca de cinco minutos.
O secretário-geral da ONU começou por lembrar que apenas experimentou a vida em democracia aos 24 anos, depois de ter sentido o "peso da ditadura" de António Salazar, mostrando-se "orgulhoso" por ter participado na luta pela liberdade em Portugal.
"Eu vi que essa ditadura oprimiu não apenas alguns cidadãos, mas também pessoas debaixo do colonialismo em África. (...) Por isso, sei o que é viver numa atmosfera de constante medo", explicou Guterres, falando da sua experiência de juventude.
O secretário-geral das Nações Unidas disse estar "seriamente preocupado" com sinais que observa em várias partes do mundo, com o avanço de regimes totalitários e com as consequências negativas da transição digital, que através da desinformação mobiliza as pessoas para valores radicalizados.
"O assalto à razão e aos factos está muitas vezes associado às tecnologias digitais e às redes sociais, com modelos de negócio impulsionados pela raiva e ansiedade", explicou Guterres, referindo-se às ameaças que pairam sobre as instituições democráticas.
"Está na altura de reafirmarmos os valores partilhados e de salientarmos a resiliência da democracia. Isto implica um profundo diálogo social, combater as desigualdades e a corrupção", concluiu o secretário-geral da ONU, em linha com os principais tópicos que estão a ser discutidos nesta cimeira virtual.
Ao longo do dia de hoje, em diferentes painéis temáticos, chefes de Estado e de Governo, mas também líderes de organizações internacionais, vão discutir mecanismos de defesa dos direitos humanos e estratégias para reforçar as democracias contra os autoritarismos.
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