A junta militar no poder em Bamaco ameaça contratar os serviços da empresa privada russa, suspeita de ser próxima do Presidente Vladimir Putin, para ajudar na luta contra os 'jihadistas'.
Os Estados Unidos da América (EUA), seguidos pela União Europeia na segunda-feira, impuseram sanções ao grupo Wagner, e Blinken lamentou hoje, em comunicado, a recusa do Mali em acolher efetivos adicionais das Nações Unidas, "o que teria contribuído para a proteção de civis", considerou.
"As forças da Wagner, conhecidas pelas suas atividades desestabilizadoras e por violações dos direitos humanos, não trarão paz ao Mali. Desestabilizarão ainda mais o país", disse o secretário de Estado norte-americano.
"Exortamos o governo de transição do Mali a não desviar os escassos recursos orçamentais da luta contra o terrorismo liderado pelas forças armadas do Mali", acrescentou.
Antony Blinken considerou que os recursos do Mali, incluindo as concessões de exploração de minas, devem ser devolvidos aos malianos, " e não hipotecadas em benefício de forças estrangeiras que não prestam contas dos seus atos e que estão acostumadas a abusar das populações locais e comprometer o controlo que os países anfitriões exercem sobre o seu próprio território".
O secretário de Estado sugere no comunicado que a parceria com o grupo Wagner pode vir a implicar o pagamento mensal de 10 milhões de dólares (cerca de 9 milhões de euros).
O chefe da diplomacia norte-americana tinha já avisado o grupo Wagner quanto ao seu eventual envolvimento no Mali, no mês passado, durante uma visita ao Senegal.
As autoridades do Mali ameaçaram recorrer ao grupo de mercenários após a decisão da França em reduzir o seu dispositivo militar no país, onde combatia grupos 'jihadistas'.
O Presidente francês Emmanuel Macron viajará para Bamaco na segunda-feira para se encontrar com o presidente de transição do Mali, coronel Assimi Goita, que desde agosto de 2020 é o "homem-forte" do país, na sequência de um bem-sucedido golpe de Estado e que reforçou o poder com novo golpe militar em maio deste ano.
A presença do grupo Wagner foi reportada na Ucrânia, Síria e nalguns países africanos, designadamente a República Centro-Africana (RCA).
Relativamente a este país, a União Europeia (UE) anunciou hoje a suspensão temporária da sua missão de formação das Forças Armadas Centro-Africanas (FACA), devido ao "controlo exercido pelos mercenários da empresa Wagner".
"Devido ao controlo exercido pelos mercenários da empresa Wagner sobre as Forças Armadas Centro-Africanas, a União Europeia, preocupada com o respeito do Direito Internacional Humanitário, decidiu suspender temporariamente as ações de formação", anunciou o general Jacques Langlade de Montgros, comandante da missão de formação da UE na República Centro-Africana (EUTM-RCA).
A formação das FACA será retomada "logo que seja garantido que os soldados centro-africanos treinados [pela UE] não serão utilizados pelos mercenários de Wagner".
Os cerca de 70 instrutores europeus da EUTM-RCA, 20 dos quais portugueses, vão regressar temporariamente aos seus países respetivos.
As ações de formação da EUTM-RCA começaram em 19 de abril de 2016 e entre 11 de janeiro de 2018 e 08 de julho de 2019, e 18 de setembro de 2020 e 11 de setembro deste ano, foi comandada pelos brigadeiros-generais portugueses Hermínio Maio e Paulo Neves de Abreu, respetivamente.
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