Xi Jinping deve consolidar o seu poder em 2022 na China

O 20º Congresso do Partido Comunista da China (PCC), que se realiza em 2022, vai oficializar o terceiro mandato de Xi Jinping, numa altura em que o Presidente chinês avança com uma campanha para transformar a sociedade chinesa.

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Lusa
20/12/2021 10:00 ‧ 20/12/2021 por Lusa

Mundo

Xi Jinping

Xi, um dos líderes mais fortes da história recente do país, comparável ao fundador da República Popular, Mao Zedong, deve assim quebrar com a tradição política das últimas décadas.

Desde que ascendeu ao poder, em 2013, Xi tornou-se o núcleo da política chinesa, desmantelando o sistema de "liderança coletiva" cimentado pelos líderes chineses desde finais dos anos 1970. Sob a sua liderança, o PCC voltou a penetrar na vida política, social e económica da China.

A "Campanha de Prosperidade Comum" deverá também marcar a China no próximo ano. Em causa está o retorno do país às suas raízes comunistas, após décadas de reformas liberais, que criaram contradições e desigualdades vistas pela liderança da China como perigosas para a estabilidade política.

Esta campanha resultou já no desaparecimento de celebridades, consideradas "vulgares" e que promovem estilos de vida "lascivos", e em fortes punições contra as maiores firmas tecnológicas da China.

As medidas para transformar a sociedade chinesa incluem também regras que estipulam que os menores só podem jogar 'online' entre as 20h00 e as 21h00 às sextas-feiras, sábados e domingos, ou a eliminação da indústria de cursos de apoio e preparação para os exames de acesso ao ensino superior.

No setor imobiliário, medidas para reduzir os níveis de alavancagem resultaram no colapso de algumas das principias construtoras, entre as quais o grupo Evergrande é o caso mais mediático.

A imprensa estatal caracterizou os eventos como uma "profunda transformação" da China.

Para N.S. Lyons, analista e escritor sediado em Washington, a campanha assinala a vitória da fação neo-autoritária dentro do PCC, contra membros mais liberais.

"A era de tolerância com o liberalismo económico e cultural na China acabou", descreveu o analista, num ensaio publicado em outubro.

Lyons atribuiu as reformas ao pensamento político de Wang Huning, uma das mais discretas e antigas figuras da atual liderança chinesa.

Outrora um proeminente académico, Wang é atualmente um dos sete membros do Comité Permanente do Politburo do Partido Comunista da China (PCC), a cúpula do poder no país, e assumiu o papel de ideólogo nos últimos três executivos da China, como diretor do Escritório Central de Pesquisa Política do PCC, instituição responsável por fornecer recomendações em questões de governação.

David Kelly, diretor da unidade de investigação China Policy, de Pequim, disse à Lusa, no entanto, que é no plano internacional que Xi quer deixar o seu "grande legado".

"A China vai trazer para o mundo moderno a sua sabedoria milenar e recuperar a grandeza de outrora. Vai oferecer ao mundo uma solução chinesa. E isto vai ser atribuído a Xi", indicou o analista, sobre a nova narrativa do regime.

A postura internacional mais assertiva reflete-se nas reivindicações territoriais no Mar do Sul da China, nos conflitos na fronteira com a Índia ou no aumento da pressão sobre Taiwan, ilha que Pequim reclama como uma província chinesa, apesar de funcionar como uma entidade política soberana.

As mudanças levaram a relação entre a China e os Estados Unidos a deteriorar-se rapidamente, com várias disputas simultâneas, incluindo uma prolongada guerra comercial e tecnológica. Em Pequim e em Washington, referências a uma nova Guerra Fria tornaram-se comuns.

Wang Xing, professor na Faculdade de Estudos do Marxismo da Universidade Renmin, em Pequim, identificou essas "tensões externas" como um dos principais desafios para o PCC.

"Isto tem impacto nos intercâmbios culturais, científicos ou tecnológicos", notou.

Leia Também: Guiné-Bissau: 2022, um ano entre os desafios e a desconfiança

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