Tutu. Centenas desfilam perante a câmara ardente na Cidade do Cabo
Centenas de pessoas desfilaram hoje perante a câmara ardente na catedral da Cidade do Cabo para se despedirem do arcebispo emérito sul-africano Desmond Tutu, Nobel da Paz em 1984 e ícone da luta contra o regime de 'apartheid'.
© Getty Images
Mundo Desmond Tutu
Um forte dispositivo de segurança rodeou a chegada do caixão ao início da manhã à Catedral de São Jorge, onde foi recebido pelo atual arcebispo da Cidade do Cabo e líder da Igreja Anglicana da África do Sul, Thabo Makgoba, e outros sacerdotes.
Na catedral encontrava-se também a aguardar o féretro a família de Desmond Tutu, que passou um momento sozinha na câmara ardente antes da abertura ao público em geral.
Seguindo a vontade de Tutu, que havia pedido que não fosse gasto desnecessariamente dinheiro no seu funeral, o caixão é um modelo de madeira muito simples, sem nenhum outro enfeite além de um pequeno buquê de flores brancas colocado no topo.
Desde o início da manhã, uma longa fila de pessoas já aguardava a vez de entrar na catedral e despedir-se do arcebispo.
"Ele foi realmente um presente de Deus para esta parte da África do Sul, onde precisávamos de ajuda", explicou uma mulher sul-africana que esperava para entrar na capela, citada pela televisão pública SABC.
Inicialmente, a câmara ardente devia realizar-se apenas na sexta-feira, véspera do funeral de Estado, marcado para sábado.
Porém, a Fundação Tutu e as autoridades decidiram iniciá-la na expectativa de que um grande número de pessoas pretendesse homenagear o arcebispo naquela que foi a sua catedral.
Paralelamente, hoje de manhã também foi realizado uma cerimónia fúnebre na Catedral de Santa Maria de Joanesburgo, cidade em que os religiosos anglicanos viveram parte das fases mais sangrentas da segregação racial do 'apartheid' entre os anos 1970 e 1980.
"Um dos seus netos disse-me que não tinha ideia do quão icónico era o seu avô. Para mim, isso testemunha o tipo de homem humilde e simples que ele era", disse a presidente da câmara de Joanesburgo, Mpho Phalatse, durante as cerimónias.
A autarca da maior cidade da África do Sul disse ainda que a câmara municipal está a estudar uma proposta para converter a área da catedral, localizada no centro da cidade, no "Distrito de Desmond Tutu".
As homenagens continuaram desta forma pelo quinto dia consecutivo, para as despedidas de uma das figuras mais amadas e respeitadas da história recente da África do Sul.
Nascido em 1931 em Klerksdorp, uma pequena cidade a sudoeste de Joanesburgo, Tutu recebeu o Prémio Nobel da Paz em 1984 pela sua luta não-violenta e incansável contra o 'apartheid'.
A trajetória de Tutu foi marcada por uma constante defesa dos direitos humanos, o que o levou a distanciar-se várias vezes da hierarquia eclesiástica para defender abertamente posições como os direitos dos homossexuais ou a eutanásia.
"Se você é neutro em situações de injustiça, você escolheu o lado do opressor. Se um elefante tem o pé na cauda de um rato e você diz que é neutro, o rato não apreciará sua neutralidade", chegou a afirmar.
Nos estágios posteriores da sua vida, também falou frequentemente contra a corrupção dos novos poderes da democracia sul-africana e contra os problemas globais como as alterações climáticas.
Nos últimos anos, afastou-se da vida pública devido à idade avançada e aos problemas de saúde que sofria há alguns anos, incluindo um cancro da próstata.
Desmond Tutu morreu em 26 de dezembro na Cidade do Cabo aos 90 anos.
A câmara ardente na Catedral de São Jorge estará aberta ao público hoje e sexta-feira, entre as 09:00 e as 17:00 locais (menos duas horas em Lisboa).
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