As manifestações, contra o golpe de Estado de 25 de outubro e que juntaram milhares de pessoas na capital sudanesa, em Omdurman e noutras cidades do país, foram as primeiras desde a demissão do primeiro-ministro, Abdalla Hamdok, no domingo.
Segundo a agência Efe, as forças de segurança reprimiram violentamente as marchas no centro de Cartum, onde os manifestantes se concentraram junto ao palácio presidencial, sede do presidente do Conselho Soberano e líder militar sudanês, Abdel-fatah al-Burhan, que liderou o golpe militar.
Os manifestantes bloquearam diversas estradas da capital com barricadas e pneus em chamas e marcharam pelas ruas com bandeiras sudanesas e com gritos de "o povo é mais forte e voltar atrás é impossível", "não à negociação" e "sim ao governo civil democrático".
Fontes médicas, citadas pela Efe, disseram que os confrontos entre as forças de segurança e os manifestantes provocaram ferimentos em pelo menos três dezenas de pessoas.
Desta vez, as autoridades sudanesas não bloquearam nenhuma das pontes que conduzem à capital nem cortaram os serviços de telecomunicações e Internet, o que tem sido recorrente nas manifestações desde o golpe de Estado.
Os protestos de hoje ocorrem após a renúncia do primeiro-ministro, que no domingo apresentou a demissão 42 dias após ter alcançado um acordo com os militares para voltar a assumir o cargo de que fora expulso no golpe.
O Sudão vive um impasse político desde o golpe militar de 25 de outubro, que ocorreu dois anos após uma revolta popular remover o autocrata Omar al-Bashir e o seu governo islamita em abril de 2019.
Sob pressão internacional, os militares reinstalaram Hamdok em novembro para liderar um Governo tecnocrata, mas o acordo não envolveu o movimento pró-democracia por detrás do derrube de Al-Bashir.
Desde então, Hamdok não conseguiu formar Governo perante protestos incessantes, não só contra o golpe de Estado, mas também contra o seu acordo com os militares.
Quase 60 manifestantes foram mortos e centenas feridos na repressão dos protestos desde o golpe, segundo um grupo médico sudanês.
Os protestos são convocados pela Associação Sudanesa de Profissionais e pelos Comités de Resistência, que estiveram na origem da revolta contra Al-Bashir.
O movimento exige que o processo de transição deve ser liderado por um executivo totalmente civil, mas os generais insistem que só entregarão o poder a um Governo eleito.
As eleições estão planeadas para julho de 2023, segundo um documento constitucional sobre o período de transição.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, apelou a um "diálogo significativo" entre todas as partes para se alcançar uma "solução inclusiva, pacífica e duradoura", segundo o porta-voz da organização, Stéphane Dujarric.
Leia Também: Sudão. Forças de segurança disparam gás lacrimogéneo contra manifestantes