As medidas punitivas do Tesouro norte-americano (equivalente ao Ministério das Finanças) são dirigidas às "atividades desestabilizadoras do dirigente da Republika Srpska (RS, a entidade sérvia da Bósnia-Herzegovina) e membro da presidência colegial tripartida.
A administração de Joe Biden alega que Dodik utilizou a sua posição de líder para acumular riqueza através de ações ilegais, incluindo corrupção.
Os Estados Unidos também sancionaram a Alternativna Televizija, uma estação televisiva com sede em Banja Luka, a principal cidade da RS, e que dizem ser detida por uma empresa ligada à família de Dodik. Washington considera que Dodik adquiriu a empresa para impor a sua agenda e controlar o seu conteúdo a partir dos bastidores, incluindo pela disseminação de informações politicamente sensíveis.
"As atividades corruptas e desestabilizadoras de Milorad Dodik e as suas tentativas de desmantelar os acordos de paz de Dayton, motivadas pelos seus próprios interesses, ameaçam a estabilidade da Bósnia-Herzegovina e de toda a região", declarou em comunicado Brian Nelson, subsecretário do Tesouro norte-americano.
Em termos práticos, a decisão da administração Biden implica que sejam bloqueadas todas as atividades, incluindo financeiras, que Dodik possua nos Estados Unidos.
Em dezembro, Dodik acelerou o seu projeto de reforço da autonomia da entidade, denunciado pelos seus rivais como uma deriva separatista, e aprovado pelo parlamento da entidade sérvia da Bósnia.
Em 10 de dezembro, o parlamento da RS forneceu ao Governo desta entidade um prazo de seis meses para organizar legalmente a sua retirada do Exército, Justiça e Impostos, três instituições cruciais comuns ao Estado central.
A presidência tripartida da Bósnia também inclui um representante oficial bosníaco (muçulmano) e um croata, unidos numa federação, a segunda entidade do país, que também tem revelado crescentes sinais de fragmentação. Há anos que Dodik advoga a separação da entidade sérvia da Bósnia e a sua integração na vizinha Sérvia, uma ambição secessionista também partilhada por parte de liderança croata bósnia, que defende a adesão à Croácia dos territórios que controla.
Em paralelo, o Departamento de Estado norte-americano também emitiu um comunicado no qual anuncia sanções dirigidas ao ex-presidente do Alto Conselho Judicial, Milan Tegeltija, e ao líder do Movimento de Ação Democrática (PDA), o bosníaco Misrad Kukic, por envolvimento em "significativa corrupção", e que também ficam proibidos de entrada nos Estados Unidos.
Na sequência da guerra civil, que provocou cerca de 100.000 mortos entre 1992 e 1995, a Bósnia-Herzegovina, uma ex-república jugoslava, foi fraturada em duas entidades na sequência do Acordo de Dayton, unidas por um frágil Estado central cujos poderes têm vindo a ser reforçados nos últimos anos.
Na prática, e mais de 25 anos após o fim da guerra civil, o país balcânico com 3,3 milhões de habitantes permanece um protetorado internacional, com fortes poderes decisórios atribuídos ao alto representante que supervisiona e coordena a aplicação dos aspetos civis do Acordo de Dayton.
Em agosto passado, foi designado para este cargo Christian Schmidt, 63 anos, ex-ministro da Agricultura da Alemanha pelo partido democrata-cristão bávaro CSU, que em novembro passado já se pronunciou contra as intenções da liderança dos sérvios bósnios. Em paralelo, o Governo de Berlim ameaçou com a aplicação de sanções à RS e ao seu líder.
As tensões na Bósnia aprofundaram-se em julho passado, quando Valentin Inzco, o antecessor de Schmidt, proibiu por lei a negação do "genocídio de Srebrenica", uma definição que os sérvios bósnios rejeitam.
A RS reagiu e aboliu essa lei no seu território e impôs o boicote dos seus líderes à presidência, parlamento central e conselho de ministros da Bósnia-Herzegovina.
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