EUA apelam à China para autorizar dissidente a ir ao funeral da mulher
Os Estados Unidos apelaram hoje à China para autorizar o advogado e defensor dos direitos humanos Guo Feixiong a juntar-se à família no funeral da mulher, Zhang Qing, que morreu na segunda-feira, em Washington, vítima de cancro.
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Mundo EUA
"Apelamos à RPC [República Popular da China] para que conceda imediatamente ajuda humanitária a Guo e permita que viaje para os Estados Unidos para se reunir com os filhos e chorar a morte da sua esposa", lê-se numa nota à imprensa do porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price.
O gabinete do secretário de Estado Antony Blinken denuncia que as autoridades chinesas "sujeitaram Guo a anos de maus-tratos, prisão, assédio e vigilância, e negaram-lhe viagens ao estrangeiro pela sua advocacia pacífica em nome do povo chinês".
"Guo foi detido em janeiro de 2021, quando tentou embarcar num avião de Xangai para os Estados Unidos e está atualmente a ser mantido incomunicável", diz o porta-voz na nota, em que apresenta as condolências à família de Zhang Qing.
A organização "Front Line Defenders", com sede em Dublin, disse numa nota publicada no seu 'site' que Guo foi detido cerca de um mês depois de Zhang ter divulgado uma carta endereçada ao marido em que comunicava que os médicos lhe tinham dado poucos meses de vida.
"Ela disse que iria combater o cancro, mas que precisava dele ao seu lado o mais depressa possível", segundo a organização.
Numa mensagem que enviou ao jornal South China Morning Post, de Hong Kong, em 28 de janeiro de 2021, Guo informou que tinha chegado a Xangai num voo proveniente de Guangzhou e que tinha sido detido quando se preparava para embarcar para os EUA, apesar de ter um visto.
O próprio advogado disse ao diário inglês de Hong Kong que as autoridades o tinham acusado de "pôr em causa a segurança nacional" e que iria entrar em greve de fome.
O seu paradeiro é desconhecido desde então.
A organização Human Rights Watch (HRW) divulgou esta semana um comunicado em que citava Zhang Qing a denunciar a "crueldade desumana" das autoridades de Pequim, que a deixaram partir para o exílio em 2009, com dois filhos menores.
"Nunca imaginei que as autoridades chinesas fossem capazes de tal crueldade desumana - de o manter preso quando a minha vida está a chegar ao fim", disse Zhang em dezembro, poucos dias antes de morrer aos 55 anos, segundo a HRW.
Na nota divulgada hoje, o Departamento de Estado norte-americano exorta a China a "cumprir os seus compromissos internacionais em matéria de direitos humanos e a pôr termo ao seu uso de detenções arbitrárias e proibições de saída por motivos políticos".
A China "deve deixar de punir os indivíduos pelo exercício dos seus direitos humanos e liberdades fundamentais", acrescenta.
Guo Feixiong, pseudónimo de Yang Maodong, é um escritor, editor e advogado de 55 anos "conhecido pelo seu papel central na defesa dos direitos dos aldeões contra funcionários corruptos na aldeia Taishi, na província de Guangdong [vizinha de Macau e Hong Kong] em 2005, um caso marcante no movimento de defesa dos direitos na China", segundo a HRW.
Como resultado do seu ativismo, Guo foi preso duas vezes entre 2006 e 2019, e cumpriu 11 anos de prisão, tendo sido "repetidamente torturado, inclusive com choques elétricos", acrescentou a HRW.
No seu relatório anual sobre os direitos humanos no mundo em 2021, divulgado hoje, a HRW expressou grande preocupação com a crescente supressão de direitos humanos na China.
A organização com sede em Nova Iorque comparou o poder exercido pelo Presidente Xi Jinping ao dos períodos mais duros do regime de Mao Zedong, como a Revolução Cultural (1966-1976) e o Grande Salto em Frente (1958), que causaram milhões de mortos.
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