Perante a ausência do antigo diretor do hotel Mille Collines, o juiz François Regis Rukundakuvuga suspendeu o julgamento e anunciou que o tribunal "decidiria" esta terça-feira sobre a continuação ou não das audiências sem a presença do réu.

Paul Rusesabagina - um opositor ao regime de Paul Kagame - foi considerado culpado em setembro de "fundar e pertencer" à Frente Nacional de Libertação (FLN), um grupo armado acusado de realizar ataques mortíferos no Ruanda em 2018 e 2019.

Foi condenado em setembro a 25 anos de prisão. A acusação, que tinha solicitado a pena de prisão perpétua pelo crime de "terrorismo", recorreu de todas as sentenças proferidas contra os 21 arguidos.

Esta manhã, os 20 co-arguidos de Rusesabagina compareceram perante um tribunal de recurso em Kigali, vestindo uniformes de prisão cor-de-rosa.

Um dos seus advogados de defesa, Jean Rugeyo, argumentou que os procedimentos corretos não tinham sido observados e que a audiência deveria ser suspensa para todos os arguidos.

"Pedimos que a audiência de recurso de hoje seja suspensa até que Paul Rusesabagina seja formalmente notificado em conformidade com a lei", disse.

O procurador Bonaventure Ruberwa contra-argumentou, alegando que Rusesabagina, preso desde a sua detenção em agosto de 2020, "foi notificado e intimado pelo tribunal". Porém, "recusou-se intencionalmente a assinar a notificação, assim como se recusou a assistir à audiência. Isto não deve atrasar a audiência".

A família de Rusesabagina anunciou na passada sexta-feira que ele não iria aparecer e que "não irá participar no recurso encenado de um prisioneiro político".

Este recurso "continua a mostrar que este não é um processo legal, mas sim um processo político", afirmou a família numa declaração divulgada na sexta-feira.

Paul Rusesabagina e os seus advogados já tinham boicotado a maior parte das audiências de primeira instância, denunciando o que consideraram ser um julgamento "político", bem como maus-tratos recebidos pelo acusado depois de detido.

Atualmente com 67 anos, Paul Rusesabagina foi tornado famoso pelo filme 'Hotel Rwanda', lançado em 2004, que conta como este Hutu moderado salvou mais de mil pessoas durante o genocídio de 1994, que matou 800.000 pessoas, principalmente Tutsis.

Rusesabagina fez depois uso da sua fama para se opor a Paul Kagame, a quem acusa de autoritarismo e de alimentar sentimentos anti-Hutu.

O opositor viveu no exílio nos Estados Unidos e na Bélgica desde 1996, antes de ser preso em Kigali em 2020, em circunstâncias obscuras, ao tomar um voo com destino ao Burundi num avião que foi desviado.

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