12 mil oficialmente presos e muitos milhares ilegalmente detidos na Líbia
Mais de 12.000 pessoas estão oficialmente em 27 prisões e centros de detenção da Líbia e outros milhares são mantidos ilegalmente e muitas vezes em "condições desumanas" em instalações 'secretas', revela um novo relatório das Nações Unidas.
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Mundo Líbia
O secretário-geral António Guterres realçou que a missão da ONU na Líbia (UNSMIL) continua a documentar casos de detenção arbitrária, tortura, violência sexual e outras violações do direito internacional em instalações geridas pelo governo e outros grupos, segundo o relatório citado na segunda-feira pela agência Associated Press (AP).
O diplomata português destacou que os milhares de detidos que não aparecem nas estatísticas oficiais fornecidas pelas autoridades líbias - mais de 12.000 - são incapazes de contestar a base legal para a sua detenção.
"Continuo seriamente preocupado com as contínuas violações dos direitos humanos de migrantes, refugiados e requerentes de asilo na Líbia", apontou Guterres no relatório dirigido ao Conselho de Segurança da ONU.
"Mulheres e homens migrantes e refugiados continuam a enfrentar elevados riscos de violação, assédio sexual e tráfico por grupos armados, contrabandistas e traficantes transnacionais, bem como por funcionários da Direção de Combate à Migração Ilegal, que está sob a alçada do Ministério do Interior", acrescentou.
O responsável da ONU explicou que a UNSMIL relatou casos destes na prisão de Mitiga e em vários centros de detenção geridos pela Direção de Combate à Migração Ilegal em Al-Zawiyah e em redor da capital Trípoli.
A missão da ONU recebeu ainda "informações credíveis sobre tráfico e abuso sexual de cerca de 30 mulheres e crianças nigerianas".
A Líbia mergulhou no caos, e pouco depois numa guerra civil, após a sublevação de 2011, apoiada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), que dividiu o país em governos rivais -- um no leste, apoiado pelo comandante militar Khalifa Haftar, e outro apoiado pela ONU na capital, Tripoli, no oeste. Cada beligerante continua a ser apoiado por uma variedade de milícias e potências estrangeiras.
Este país no norte de África, rico em petróleo, tornou-se um ponto de passagem para migrantes que fogem da guerra e da pobreza naquele continente e no Médio Oriente, à procura de uma vida melhor na Europa.
Os traficantes exploraram o caos e muitas vezes colocam famílias desesperadas em barcos de borracha ou madeira mal equipados que ficam parados ou afundam ao longo da perigosa rota do Mediterrâneo Central.
Guterres denunciou que a detenção arbitrária generalizada de migrantes e refugiados contínua, incluindo aqueles resgatados ou intercetados quando tentam cruzar o mar Mediterrâneo para a Europa e acabam devolvidos à Líbia pela Guarda Costeira daquele país.
O líder da ONU expressou também a séria preocupação com as pessoas detidas arbitrariamente e aquelas que permanecem desamparadas após amplas operações de segurança realizadas em outubro pelas autoridades líbias, onde denunciou o uso de "força excessiva e desproporcional".
Estas operações atingiram mais de 5.150 migrantes e refugiados, incluindo pelo menos 1.000 mulheres e crianças, e deixaram famílias separadas e crianças desaparecidas.
Desde agosto, Guterres tem também criticado as expulsões das fronteiras leste e sul da Líbia de centenas de cidadãos do Chade, Egito, Eritreia, Etiópia, Somália e Sudão para o Sudão e Chade "sem o devido processo".
"As expulsões não respeitaram a proibição de expulsão coletiva" e o regresso de pessoas sem o seu consentimento, "e colocaram muitos requerentes de asilo e migrantes em posições extremamente vulneráveis", salientou o secretário-geral da ONU.
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