Dissolução do parlamento se Ramos-Horta for eleito "é recomendação"
O presidente do CNRT, Xanana Gusmão, garantiu hoje à Lusa que a decisão do partido exigir a condição ao seu candidato presidencial, José Ramos-Horta, de dissolver o parlamento, caso seja eleito, se trata apenas de "uma recomendação".
© Lusa
Mundo Timor
"Não é exigência é uma recomendação apenas", disse Xanana Gusmão em declarações à Lusa depois da conferência nacional do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT) que aclamou hoje Ramos-Horta como seu candidato presidencial.
No entanto, o texto da resolução aprovada, a que a Lusa teve acesso e que detalha "algumas condições a fim de o candidato tomar conhecimento e implementar depois de eleito e empossado como Presidente da República" para os próximos cinco anos, inclui "repor a ordem constitucional pela dissolução do Parlamento Nacional e marcação das eleições legislativas, a fim de ser pôr fim à grave violação da constituição e do Estado de direito democrático".
O CNRT quer ainda que se Ramos-Horta vencer avance para "reestruturar o Tribunal de Recurso e a Procuradoria-Geral da República" e ainda que consulte o partido "sobre as pessoas que deseja nomear para a sua equipa de assessoria".
Neste último caso, essa questão pretende "assegurar boa comunicação e boa relação de trabalho, que deve ser efetivo para facilitar o processo de reposição da ordem constitucional e do Estado de Direito democrático".
O texto é assinado por Xanana Gusmão, pelos dois vice-presidentes da conferência Nacional, Tomás Cabral, que é representante de José Ramos-Horta durante a campanha, e Maria Rosa da Câmara Bisoi, pelo secretário Bendito Freitas e pelo vice-secretário, Francisco da Costa.
Xanana Gusmão disse à Lusa que todos os cenários sobre possíveis candidatos foram debatidos na conferência, reconhecendo assim a posição de vários delegados que defendiam que devia ser um quadro do partido a candidatar-se.
"Todos os cenários foram discutidos. Alguns até pediram que fosse eu. Colocou-se tudo na mesa e depois houve a decisão final. Quanto a nós, quanto ao partido, é a melhor solução para Timor-Leste", considerou.
A conferência nacional de hoje foi uma demonstração de força do CNRT, com mais de 1.640 delegados de todo o país para deliberar sobre uma decisão que, no entanto, já estaria tomada porque assim que terminou o debate os organizadores retiraram a facha sobre a conferência para a substituírem por um cartaz que confirmava a candidatura.
Ramos-Horta, que apresentará assim a sua terceira candidatura à Presidência da República e que já foi chefe de Estado, eleito à segunda volta em 2007, foi recebido ao inicio da tarde em quase apoteose no local onde a conferência decorreu.
Com um colete verde, uma das cores predominantes do partido, Ramos-Horta foi saudado por Xanana Gusmão, que dobrou ligeiramente o joelho, em jeito de vénia ao "avô", como o apelidou.
"Eu estou pronto para aceitar a confiança do partido CNRT, de todo o povo de Timor, e apresento a minha candidatura a Presidente da República, 2022-2027", lia-se no cartaz, reproduzindo uma citação de Ramos-Horta.
De cada um dos lados do cartaz as imagens de Xanana Gusmão, que "deposita confiança" no Prémio Nobel da Paz, e Ramos-Horta, ambos com trajes tradicionais.
No seu discurso na sessão de encerramento, Xanana Gusmão deixou vários recados para o partido, nomeadamente no que toca à "mobilização máxima" para a campanha, incluindo a formação e preparação dos fiscais eleitorais do partido.
Recorde-se que nas eleições de 2017, que o CNRT perdeu, o partido não tinha fiscais em todos os locais de voto do país.
Questionado sobre se o CNRT está em máxima força para a campanha, em especial tendo em conta apelos no passado para fortalecimento partidário, Xanana Gusmão disse à Lusa que há um "compromisso para melhoria".
"Como todas as organizações no mundo, quem forma essas organizações são pessoas e como humanos somos muito voláteis e os nossos comportamentos, o nosso cometimento nunca responde às exigências que os militantes e o próprio partido depositam", disse.
"Tentamos corrigir, vamos corrigindo. Estamos a contar com a reestruturação toda que houve, colocamos os nossos problemas como nossa fraqueza e assim, teoricamente, há o compromisso da correção para melhoria", afirmou o líder do CNRT.
Num curto discurso de aceitação, Ramos-Horta referiu-se a vários episódios da sua relação com Xanana Gusmão ao longo da luta pela independência de Timor-Leste e, desde aí, em alguns dos maiores momentos de crise.
Nas situações mais recentes, referiu-se aos esforços de Xanana Gusmão para canalizar ajuda humanitária a populações que estavam a sentir os efeitos das medidas implementadas para combater a covid-19.
"Eu preferia não estar na presidência nem no Governo e continuar a fazer o que tenho feito. Mas isso é uma posição egoísta, enquanto Xanana Gusmão continua a trabalhar pelo país", referiu.
A conferência ficou marcada pela presença de elementos de outras forças políticas, incluindo José Luis Guterres, da Frente Mudança (FM), Rogério Lobato (Fretilin) e Gregório Saldanha, líder de um novo partido, o PATIFOR, que ainda está no processo de registo.
Rogério Lobato disse apoiar a candidatura para "acabar com divisões e sectarismo" no país, enquanto Gregório Saldanha considerou que "Timor-Leste, para ser forte, precisa de unidade".
Já José Luis Guterres saudou a decisão, recordando a "grande experiência" nacional e internacional de Ramos-Horta -- ambos foram companheiros na frente diplomática durante a luta contra a ocupação indonésia.
"É uma excelente escolha. Timor-Leste tem um grande problema de credibilidade exterior, vivemos grandes problemas económicos e por isso precisamos de Ramos-Horta no Palácio Presidencial e de Xanana Gusmão no Palácio do Governo", afirmou.
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