"A gestão coletiva com o Zimbabué é inevitável, é um aliado natural", referiu Nyusi, a propósito de um empreendimento conjunto de gestão de recursos hídricos, mas sugerindo proximidade em relação a outros novos projetos que os dois países têm em discussão.
"A relação bilateral com o Zimbabué acaba por ser de irmandade, mesmo", disse - os dois países partilham uma longa extensão de fronteira e um corredor económico que liga Harare ao porto da Beira, fulcral para o comércio externo zimbabueano.
Emmerson Mnangagwa efetuou uma visita de um dia a Moçambique, com estadia na cidade da Beira, onde juntamente com Filipe Nyusi inauguraram um conjunto de locomotivas e carruagens fornecidas pela Índia, parte das quais vão ligar os dois países.
Uma cerimónia com apelos de ambos ao envolvimento de empresários dos dois lados da fronteira em investimentos conjuntos, aproveitando o corredor de transportes que vai do porto da Beira até à fronteira de Machipanda e depois até Harare, criando "sinergias" que "melhorem o ambiente de negócios", disse Nyusi.
Questionado pela Lusa sobre que outros investimentos podem vir a juntar os dois países, o Presidente moçambicano deu alguns exemplos.
Desde logo na área da energia - em que Moçambique já fornece o Zimbabué através da albufeira de Cahora Bassa -, considerando que o país vizinho é "um mercado seguro", além de outros da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).
Há também estudos para parcerias ao nível da agricultura, dada a "conhecida experiência" do Zimbabué na área, e projetos em análise no setor da gestão de recursos hídricos - como o rio Zambeze que atravessa os dois países, leito de Cahora Bassa, principal barragem hidroelétrica moçambicana.
"No nosso país a água mata, porque chove muito e há inundações" ou porque noutros locais não existe em quantidade, referiu Nyusi.
Os dois países partilham recursos hídricos e essa é a face mais visível da forma como o Presidente moçambicano vê o país vizinho como um "aliado natural".
Alinhado com as ambições agrícolas e de autossuficiência alimentar, Nyusi deu ainda o exemplo de uma fábrica de fertilizantes em Moçambique que pudesse ser explorada e gerida em conjunto - considerando que financiadores deste tipo de projetos "aceitam com maior rapidez investimentos integrados", no caso, juntando os dois países.
Além dos novos projetos, a reabilitação das condições de transporte ao longo do corredor Beira-Machipanda têm sido prioritárias, como ilustrado hoje com a inauguração de quatro locomotivas pelos dois chefes de Estado.
Na estação ferroviária da Beira, Nyusi regressou por uma manhã à empresa pública que geriu antes de entrar nas lides governamentais.
"Moçambique deve responder com qualidade e eficácia" às necessidades logísticas dos países do interior, sem acesso ao mar, assinalou Filipe Nyusi, destacando o papel importante que o país lusófono tem também para o Maláui, Zâmbia e parte da África do Sul, havendo a possibilidade de também vir a servir a República Democrática do Congo (RDCongo).
É um sinal de "desenvolvimento, modernização", realçou o chefe de Estado do Zimbábue na cerimónia, "uma visão partilhada para a região", acrescentou, enaltecendo as relações com a Índia, que forneceu o material ferroviário.
Mnangagwa incluiu a Índia num lote de países - referindo o Brasil, China e Rússia - que dão créditos concessionais sem contrapartidas políticas, exigidas por outros e das quais o Zimbabué se afasta, disse.
O Presidente moçambicano enviou também por via diplomática uma saudação para Narendra Modi, primeiro-ministro indiano, que disse esperar reencontrar em breve.
Filipe Nyusi voltou a pedir o fim das sanções contra o Zimbabué - impostas desde 2001, ainda durante a governação do ex-presidente Robert Mugabe.
Estados Unidos da América e União Europeia (UE) adotaram sanções em protesto contra alegada violência política e atentados aos direitos humanos - sendo que em 2014 a UE suspendeu a maior parte das sanções sobre o Zimbabué, mas o país continua à margem das relações financeiras e comerciais internacionais.
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