O relatório, citado pela AFP, baseia-se numa investigação realizada por este organismo independente, criado pelo Governo etíope, nas regiões de Afar e de Amhara, para onde alastrou em julho o conflito que grassa desde novembro de 2020 na região vizinha de Tigray, entre rebeldes locais e forças pró-governamentais.
A CEDH diz ter verificado que "pelo menos 403 civis foram mortos e 309 sofreram ferimentos físicos leves a graves na sequência de tiros de artilharia pesada, raides aéreos e ataques de 'drones' pelas partes em conflito, em violação do direito internacional humanitário".
"Em certas partes das regiões de Afar e de Amhara cobertas por este inquérito, pelo menos 346 civis foram vítimas de execuções ilegais e extrajudiciais pelas partes em conflito, principalmente pelas forças do Tigray", acrescentou a CEDH.
A organização acusa também os rebeldes do Tigray de atos de "violência sexual e sexista generalizados, cruéis e sistemáticos, nomeadamente violações coletivas, contra mulheres de diferentes idades, incluindo meninas e idosas, em certas partes de Afar e Amhara sob o seu controlo".
Os rebeldes são ainda acusados de realizarem "raptos e desaparecimentos forçados de uma forma que constitui crimes de guerra e crimes contra a humanidade".
A Etiópia enfrenta desde novembro de 2020, uma guerra que começou na província do Tigray (norte) e se espalhou para as regiões vizinhas de Amhara e Afar, marcada por abusos de ambas as partes em conflito: as forças governamentais, apoiadas pelas forças da Eritreia, e a Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF, na sigla em inglês).
O conflito provocou vários milhares de mortos, mais de dois milhões de deslocados e mergulhou centenas de milhares de etíopes em condições de desnutrição e fome, segundo a ONU.
Uma investigação conjunta do Alto-Comissariado das Nações Unidas e da CEDH, criada pelo governo etíope, concluiu no início de novembro último que foram cometidos crimes contra a humanidade por todas as partes envolvidas no conflito, onde participam o exército da Eritreia, ao lado do exército federal etíope, assim como forças insurgentes do estado da Oromia, ao lado do contingente militar da TPLF.
A ONU estima, por outro lado, que entre novembro e dezembro tenham sido detidas entre 5.000 e 7.000 pessoas, incluindo membros do seu pessoal, sobretudo de etnia tigray.
Os intensos esforços diplomáticos, incluindo os da União Africana, para alcançar um cessar-fogo, não produziram até agora qualquer progresso decisivo.
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