O porta-voz do Kremlin (Presidência russa), Dmitri Peskov, disse que o plano de 15 pontos divulgado na quarta-feira pelo jornal britânico Financial Times -- que referia que o acordo previa um cessar-fogo, retirada das tropas russas e neutralidade ucraniana face à NATO - "contém muitas compilações e informações que são do domínio público sobre as questões que estão na agenda" das negociações e vários dados que são "factualmente incorretos", sem esclarecer quais.
Para acelerar uma solução de paz, o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba, pediu à Turquia que seja "um dos garantes" de um eventual acordo com a Rússia, anunciou o seu homólogo turco Mevlut Çavusoglu de visita a Lviv, oeste da Ucrânia.
"A Ucrânia emitiu uma oferta sobre um acordo de segurança coletiva P5 [os cinco membros-permanentes do Conselho de Segurança da ONU], mais a Turquia e a Alemanha", precisou Çavusoglu, assegurando que "a Federação da Rússia não coloca qualquer objeção".
Contudo, um aliado da Rússia, o líder bielorrusso, Alexander Lukashenko, advertiu que o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, terá de assinar em breve um ato de capitulação se recusar um acordo com o seu homólogo russo, Vladimir Putin.
"A Rússia não perderá esta guerra", disse Lukashenko numa entrevista à televisão japonesa TBS.
No mesmo sentido, o Kremlin apelou às autoridades ucranianas para que pensem no destino do país e do seu povo e tomem as decisões que permitam acabar com a "operação militar especial" iniciada por Moscovo há três semanas.
"Instamos o regime [do Presidente Volodymyr] Zelensky a pensar sobre o destino do país, do seu povo, a tirar as conclusões correspondentes e a tomar as decisões pertinentes", disse a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, no seu encontro semanal com a imprensa, em Moscovo.
Falando para o seu país, e de forma assertiva, Putin acusou os russos que não apoiam a invasão da Ucrânia de serem traidores e falou de uma "auto purificação" da sociedade russa.
Os russos "serão sempre capazes de distinguir os verdadeiros patriotas da escória e traidores, e simplesmente os cuspirão, como um mosquito que acidentalmente voou para as suas bocas", disse Putin.
"Estou convencido de que uma auto purificação tão natural e necessária da sociedade só fortalecerá o nosso país", acrescentou o líder russo, num discurso transmitido pela televisão pública.
Vladimir Putin aproveitou para defender a anexação da Crimeia como uma decisão oportuna, justificando com o que ocorreu desde 2014 na Ucrânia, país que a Rússia invadiu novamente em 24 de fevereiro.
"Em fevereiro-março de 2014, os habitantes da Crimeia e de Sebastopol mostraram coragem e patriotismo", disse Putin, citado pela agência espanhola EFE, no início de uma reunião governamental sobre o desenvolvimento da Crimeia na véspera do oitavo aniversário da anexação.
Entretanto, o Kremlin rejeitou a ordem do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), o tribunal superior da ONU, para que a Rússia suspenda imediatamente as suas operações militares na Ucrânia.
"Não poderemos levar esta decisão em consideração", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, em declarações à imprensa, sublinhando que os dois lados - Rússia e Ucrânia - teriam de estar de acordo para que a decisão fosse aplicada.
No seu périplo virtual de comunicações junto de países aliados da Ucrânia, Volodymyr Zelensky exortou a Alemanha a derrubar o "novo muro" contra a liberdade que existe na Europa, depois da invasão da Ucrânia pela Rússia.
"Caro chanceler [Olaf] Scholz, destrua esse muro, conceda à Alemanha o papel de desempenhar essa conquista", disse o Presidente ucraniano perante a câmara baixa do parlamento alemão (Bundestag), num discurso dirigido aos deputados alemães.
Em resposta a este apelo, Olaf Scholz responsabilizou Putin pelo sofrimento que a guerra está a provocar aos ucranianos, mas também pela morte de militares russos nos combates em curso na Ucrânia.
"Qualquer um na Rússia deve saber que a guerra de Putin é responsável pela morte de soldados russos na Ucrânia", declarou Scholz.
A Ucrânia continua a insistir numa maior responsabilização da Rússia pelas atrocidades cometidas em batalha e o ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, instou a União Europeia (UE) a classificar o Presidente russo, Vladimir Putin, como um "criminoso de guerra", como fez pela primeira vez, na quarta-feira, o Presidente norte-americano, Joe Biden.
"Exorto-vos a reconhecer que Putin é um criminoso de guerra, tal como os Estados Unidos o fizeram", declarou Oleksii Reznikov, intervindo por videoconferência numa audição conjunta da comissão dos Assuntos Externos e da subcomissão da Segurança e Defesa do Parlamento Europeu, em Bruxelas, onde se voltou a ouvir um apelo para intensificar sanções contra Moscovo.
Mantendo uma posição ambígua no conflito, o Ministério do Comércio da China disse que Pequim vai tomar as "medidas necessárias" para proteger as empresas chinesas das sanções impostas pelos governos ocidentais contra a Rússia.
Num outro plano, a organização humanitária Human Rights Watch (HRW) pediu à Ucrânia que pare de mostrar nas redes sociais os prisioneiros de guerra russos porque isso viola as convenções de Genebra sobre o direito internacional humanitário.
O Presidente da Ucrânia continua a fazer graves denúncias sobre o comportamento das tropas russas e hoje acusou a Rússia de causar "centenas de vítimas" no bombardeamento de um teatro em Mariupol (sudeste), num ataque que o Ministério da Defesa russo atribuiu às forças ucranianas.
"Em Mariupol, a Força Aérea Russa lançou conscientemente uma bomba no Teatro Dramático, no centro da cidade", disse Volodymyr Zelensky, na noite de quarta-feira, acrescentando ser "ainda desconhecido o número de mortos".
A Rússia realizou novos ataques aéreos na manhã de hoje na cidade portuária de Mariupol, segundo uma declaração do gabinete do Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, citado pela agência de notícias Associated Press (AP).
O gabinete de Zelensky não relatou vítimas nos últimos ataques àquela cidade sitiada pelas forças russas.
Também pelo menos uma pessoa morreu e três ficaram feridas após vários fragmentos de um míssil russo, derrubado por forças ucranianas, terem caído num prédio de apartamentos na capital da Ucrânia, Kiev.
Ainda assim, o Governo britânico divulgou um boletim dos serviços de informações que revela que a invasão russa da Ucrânia está "em grande parte paralisada em todas as frentes".
O relatório, divulgado diariamente através da rede social Twitter, indica que "as forças russas fizeram progressos mínimos por terra, mar ou ar nos últimos dias e continuam a sofrer grandes baixas" na Ucrânia.
Para compensar dificuldades militares russas, o Presidente da República russa da Chetchénia, Ramzan Kadyrov, garantiu que "um milhar" de voluntários tchetchenos está a caminho da Ucrânia para combater ao lado dos russos, três semanas após início da ofensiva de Moscovo.
Na sua conta da plataforma Telegram, Kadyrov afirmou que um familiar seu, Apti Alaudinov, está "na liderança de um milhar voluntários da república tchetchena" que estão "a caminho para participar na operação especial para a desnazificação e a desmilitarização da Ucrânia".
Ao fim de 22 dias de combates, a ONU anunciou que a guerra na Ucrânia provocou pelo menos 780 mortos e 1.252 feridos entre a população civil, incluindo mais de uma centena de crianças, até ao final do dia de quarta-feira.
No seu relatório diário sobre baixas civis, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) contabiliza 58 crianças mortas e 68 feridas.
Mais de 100.000 ucranianos fugiram do país nas últimas 24 horas, acrescentou a ONU, que, desde a invasão russa, já contabiliza 3,16 milhões de refugiados e mais de dois milhões de deslocados no país.
De acordo com os números publicados na conta oficial do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR), estavam registados, até às 10:30 (hora de Lisboa), 3.169.897 refugiados da Ucrânia, o que representa mais 106.802 do que à mesma hora de quarta-feira.
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