A porta-voz do Podemos, Isa Serra, criticou hoje a "viragem injustificável" que o PSOE deu sobre o Saara Ocidental e questionou a intenção de defender os direitos dos ucranianos "enquanto os dos saarauis são entregues".
"Não é esse o caminho. Temos um compromisso no nosso país com o povo saaraui e com os direitos humanos", afirmou a dirigente do Podemos, numa manifestação convocada em Madrid contra a guerra na Ucrânia, considerando ser "mais importante insistir nos canais diplomáticos", fortalecer a paz e garantir os direitos humanos.
Na sexta-feira, o Governo de Madrid admitiu considerar a proposta de autonomia apresentada por Marrocos, para o Saara ocidental, como ponto de partida para a resolução do conflito.
Hoje, na mesma manifestação na mesma manifestação na capital espanhola, a porta-voz do Más Madrid na Câmara Municipal da capital espanhola, Rita Maestre, assegurou que não compreende uma mudança na posição espanhola que "não foi explicada ou decidida por nenhuma instância" de que haja conhecimento, como alegou, e com a qual, uma vez mais, Espanha "vira as costas" ao povo saaaraui e às Nações Unidas.
"É preciso pensar antes de fazer coisas e mudanças tão radicais como esta", disse Maestre em referência à reação da Argélia, que este sábado convocou seu embaixador em Madrid para "consultas com efeito imediato", após a "mudança repentina" da Espanha sobre o Saara.
"Devemos garantir uma solução negociada tendo em conta os elementos ligados à crise energética e à dependência do nosso país", concluiu.
Já o ex-ministro e líder do Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), Raül Romeva, assegurou que o partido mantém pontes com o Governo de Pedro Sánchez apesar de considerar um "erro gravíssimo" o apoio do executivo espanhol ao plano de autonomia marroquino para o Saara Ocidental.
"Temos sempre pontes abertas. Compreendemos sempre que a política é, precisamente, enfrentar democraticamente os pontos e questões sobre os quais não concordamos", afirmou em declarações aos jornalistas, em Barcelona.
No entanto, o ex-ministro acrescentou que "não é compreensível do ponto de vista humanitário nem do ponto de vista geopolítico" a decisão do governo espanhol, desafiando os militantes do PSOE a discordar da posição e a levantar a voz para defender os direitos do povo saaraui, e a realização de um referendo sobre a autodeterminação na região.
Também os ministros dos Negócios Estrangeiros da Argélia e da China, Ramtan Lamamra e Wang Yi, respectivamente, defenderam uma solução para a disputa do Saara Ocidental, de acordo com o direito internacional e as resoluções da ONU.
"Em relação à questão do Saara Ocidental, as duas partes afirmaram o seu apoio aos esforços para alcançar uma solução duradoura e justa no quadro do direito internacional, em particular as resoluções relevantes das Nações Unidas", pode ler-se no comunicado conjunto divulgado hoje.
Os responsáveis destacaram ainda a necessidade de "acabar com as crises que ameaçam a paz, a segurança e a estabilidade apelando aos princípios básicos contidos na Carta Fundadora da União Africana e procurar a cristalização de soluções africanas para os problemas africanos".
Por outro lado, a Associação Saaraui para a Defesa dos Direitos Humanos (ASADEDH), grupo crítico dos dirigentes da Frente Polisário que defendem a independência do Saara Ocidental, saudou "com satisfação" a "corajosa" decisão de Pedro Sánchez.
Num comunicado enviado hoje à Agência Efe, a ONG considerou que a nova posição de Espanha pretende encontrar uma solução para o conflito do Saara "sem vencedores nem vencidos", e irá contribuir para a estabilidade de toda a região do Norte de África e África Austral.
Para a Associação, esta decisão também "irá encerrar as dificuldades tanto em termos de direitos humanos quanto nas duras condições de vida que os [...] compatriotas sofreram por quase cinco décadas, nos campos de Tindouf (Argélia)".
"Aplaudimos e apoiamos este passo histórico em prol da paz dado pelo governo espanhol", disse a ONG, que condenou "a incitação à violência, a mobilização e a defesa da guerra", acrescentando que tal é exercido pelos dirigentes da Frente Polisário, "encorajados e apoiados pelo governo argelino que só promove a desestabilização desta já frágil região".
O primeiro-ministro espanhol considerou uma proposta para criar um Saara ocidental autónomo controlado por Rabat a iniciativa "mais séria, realista e credível" para solucionar décadas de disputa pelo vasto território, anunciou na sexta-feira o palácio real de Marrocos.
Numa carta enviada ao rei Mohammed VI, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, reconheceu "a importância da questão do Saara para Marrocos" e que "Espanha considera a iniciativa de autonomia apresentada por Marrocos como base em 2007 a mais séria, realista e credível para solucionar a disputa", indicou o palácio real marroquino em comunicado.
Espanha, que ainda é considerada a potência administrativa colonial do Saara ocidental desde que abandonou o território, em 1975, defendeu durante muito tempo que o controlo de Marrocos sobre o Saara ocidental era uma ocupação e que a realização de um referendo patrocinado pela ONU deveria ser a forma de decidir a descolonização do território.
Confirmando, a alteração da sua posição, o Governo de Madrid emitiu um comunicado anunciando o início de uma "nova fase" na relação com Marrocos, assente "no respeito mútuo, no cumprimento dos acordos, na ausência de ações unilaterais e na transparência e comunicação permanente".
Na sexta-feira, a Frente Polisário defendeu que Espanha "está errada" e "sucumbiu à pressão e chantagem permanente de Marrocos", ao aceitar a proposta marroquina de autonomia para o Saara ocidental como base para a resolução do conflito.
Segundo declarações do representante da Frente Polisário em Espanha, Abdulah Arabi, divulgadas pela Televisão Sarauí, "Marrocos tem exercido pressão de forma insistente com o único objetivo de tentar condicionar a posição do Governo de Espanha em relação ao Saara ocidental".
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