Brasil com "posição passiva" na crise entre Rússia e Ucrânia
A posição do governo brasileiro na atual crise entre Rússia e Ucrânia, que culminou na anexação da Crimeia por Moscovo, pode ser considerada passiva, afirmou à Lusa Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo.
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Mundo Académico
O ministro brasileiro das Relações Internacionais, Luiz Alberto Figueiredo, defendeu uma solução "negociada" pelos ucranianos e afirmou que as partes envolvidas deveriam agir com moderação, mas não criticou diretamente a Rússia por enviar tropas para a Crimeia.
"O Brasil não se posicionou de maneira clara, como os Estados Unidos ou a União Europeia", afirmou o professor, realçando que a passividade "não é necessariamente algo ruim" e que está a ser adotada também pela Índia e China.
O professor descreveu que o entendimento entre as autoridades brasileiras é o de que uma posição mais crítica poderia por em risco a presença do presidente russo, Vladimir Putin na cimeira do BRICS [Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul], que se realiza em julho, no Brasil.
Entretanto, acrescentou, a presença de Putin na reunião do BRICS é "mais importante para ele mesmo, para mostrar que não está isolado", pelo que a preocupação do Brasil parece "exagerada".
Stuenkel recordou que a política externa brasileira condena a violação da soberania de um Estado e tem como um de seus pilares a inviolabilidade do seu território, questões não cumpridas pela Rússia em relação à Crimeia.
Outro motivo para a passividade em relação à Rússia, segundo o especialista, é o momento negativo que o Brasil vive com os EUA desde o caso das suspeitas de espionagem, identificadas no ano passado. Criticar a Rússia poderia ser visto como uma atitude brasileira a favor das sanções norte-americanas contra o país.
Além disso, a proximidade das eleições, que ocorrem em outubro, pode estar a motivar um posicionamento mais conservador. Segundo Stuenkel, um acerto do governo na área da política internacional não influencia positivamente uma eleição, mas um erro pode causar a derrota e, por isso, a presidente Dilma Rousseff tem evitado envolver-se em conflitos internacionais.
Para o especialista, é provável que os presidentes anteriores, Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso, tomassem posições mais claras.
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