Regimento Azov tem alimentado guerra de propaganda entre Kyiv e Moscovo

O Regimento Azov, considerado uma milícia neonazi por uns e heróis ucranianos por outros, tem estado no centro de uma guerra de propaganda entre Kyiv e Moscovo, que justificou a invasão com um objetivo de "desnazificação" da Ucrânia.

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Lusa
26/03/2022 00:01 ‧ 26/03/2022 por Lusa

Mundo

Ucrânia

As redes sociais pró-Rússia, como as contas na rede social Twitter das embaixadas russas em Paris ou Londres, têm divulgado testemunhos e comentários sobre as alegadas atrocidades cometidas por aquele regimento, que acusam de ser "fascista" ou "nazi".

Em 10 de março, o chefe da diplomacia russa, Sergey Lavov, justificou o bombardeamento de uma maternidade em Mariupol, que chocou o mundo inteiro, pela presença no edifício do "Batalhão Azov e outros radicais".

Desde a sua criação em 2014, no início da guerra contra os separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia o batalhão, integrado depois na Guarda Nacional, a cargo do Ministério do Interior ucraniano, tem alimentado estas especulações.

Fundado por ativistas de extrema-direita, incluindo Andriï Belitsky, da organização paramilitar Patriots of Ukraine, esta força militar recrutou inicialmente voluntários e exibiu emblemas, como o "Wolfsangel" [anjo do lobo, tradução literal em português], que lembra os nazis alemães da divisão SS Das Reich.

"Em 2014, este batalhão tinha de facto uma formação de extrema-direita. Mas o regimento 'perdeu' a ideologia e tornou-se uma unidade regular", explica à agência France Presse (AFP) Andreas Umland, especialista do Centro de Estudos do Leste Europeu, de Estocolmo.

"Aqueles que se juntam [ao Regimento Azov] não vão para lá por ideologia, mas porque tem a reputação de ser uma unidade de combate particularmente tenaz", acrescentou.

Esta formação, com o nome do mar de Azov, que banha a cidade portuária de Mariupol, conquistou um lugar na história ao participar na reconquista daquela localidade estratégia aos separatistas pró-Rússia, em junho de 2014.

Oito anos depois, os mesmos protagonistas ainda se enfrentam em Mariupol, que tem estado sitiada pelas forças russas e onde Vladimir Putin pretende obter a primeira grande vitória naquilo que apelida de "operação militar especial", iniciada há mais de um mês.

Moscovo pretende justificar o objetivo de "desnazificação" da Ucrânia e a propaganda russa tem repetidamente apelidado os governantes daquele país, incluindo o Presidente Volodymyr Zelensky, de "neonazis" e "drogados".

Mas o Regimento Azov também não se tem ficado atrás na guerra de comunicação, lançando múltiplos comunicados de imprensa vitoriosos através da rede social Telegram, acompanhados de vídeos de tanques russos em chamas e acusando as forças de Moscovo de serem "os verdadeiros fascistas".

Esta unidade terá entre 2.000 a 3.000 homens, segundo estimativas de Viatcheslav Likhachev especialista do Centro de Direitos Humanos ZMINA, em Kyiv, que destaca a capacidade de comunicação e de "recrutamento dos melhores".

O uso do símbolo conotado com o fascismo na Alemanha, que dura desde a vitória em Mariupol em 2014, tem contribuído para semear a confusão, com esta ligação ao passado.

Mas segundo os especialistas, na Ucrânia, este símbolo "não tem a conotação de um símbolo fascista" e os elementos deste regimento são para os ucranianos "lutadores heroicos como os outros".

A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que causou, entre a população civil, pelo menos 1.081 mortos, incluindo 93 crianças, e 1.707 feridos, entre os quais 120 são menores, e provocou a fuga de mais 10 milhões de pessoas, das quais 3,7 milhões foram para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.

Segundo as Nações Unidas, cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.

Leia Também: ONU condena míssil norte-coreano e pede implementação de resoluções

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