Governo espanhol criticado pelas posições sobre o Saara Ocidental
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, foi hoje fortemente criticado no parlamento de Madrid, pelo parceiro de coligação Unidas Podemos e pelo PP, na oposição, pelas recentes posições sobre o Saara Ocidental.
© Getty
Mundo Pedro Sánchez
Espanha, ainda considerada a potência administrativa colonial do Saara ocidental, apesar de ter abandonado o território em 1975, defendeu durante muito tempo que o controlo de Marrocos sobre o Saara Ocidental era uma ocupação.
Madrid considerava que a realização de um referendo patrocinado pela ONU deveria ser a forma de decidir a descolonização do território, disputado pela Frente Polisário, que defende a autodeterminação do povo saarauí, tendo proclaramdo em 1976 a independência da República Árabe Saaraui Democrática (RASD) no Saara Ocidental.
No passado dia 18, Marrocos anunciou que Espanha tinha considerado uma proposta para criar um Saara ocidental autónomo controlado por Rabat a iniciativa "mais séria, realista e credível" para solucionar décadas de disputa pelo vasto território, o que foi confirmado pelo Governo de Madrid no mesmo dia.
Durante um debate no parlamento, o porta-voz do partido Unidas Podemos, Pablo Echenique, criticou o argumento de Sánchez de que o governo de Madrid não alterou posições sobre o Saara Ocidental, pedindo ao primeiro-ministro espanhol para "escutar e refletir" acerca do protesto generalizado sobre "uma decisão difícil de justificar".
O porta-voz do partido minoritário da coligação governamental espanhola disse ainda que "constatou" a diferença de opiniões entre os membros do Executivo sobre a questão do Saara Ocidental.
O Unidas Podemos recusa a "nova relação" de Espanha com Marrocos afirmando que só há duas posições sobre o Saara Ocidental: ou se defende o direito à autodeterminação do povo saarauí (de acordo com as resoluções da ONU) ou se apoia a proposta marroquina de autonomia para o Saara Ocidental.
"Houve uma mudança de posição e a nova posição é difícil de justificar", reiterou o dirigente do Unidas Podemos.
A porta-voz do Partido Popular (PP), Cuca Gamarra, disse que Sánchez "acabou" com o consenso que sempre existiu sobre o território, assinalando que até agora "nenhum governo espanhol deixou de procurar uma solução" sobre o problema no quadro das Nações Unidas.
Recordou "as graves consequências" que se verificam atualmente nas relações com a Argélia, que é um dos fornecedores mais fiáveis de gás a Espanha e que apoia a Frente Polisário.
A posição defendida por Sánchez em relação ao Saara Ocidental também já levou a uma manifestação de protesto em Madrid, no passado fim de semana.
Face às críticas, o primeiro-ministro socialista disse hoje no parlamento que "existe uma 'janela de oportunidade'" para se resolver o conflito do Saara Ocidental e que a posição de apoio ao plano de autonomia (proposta de Marrocos) é apenas "mais um passo" para o que considerou a "solução".
Sánchez disse que o plano marroquino já tinha sido "saudado" antes pelo governo socialista de José Luis Zapatero (2004-2011) e pelo Executivo do PP liderado por Mariano Rajoy (2011-2018), em reuniões de alto nível entre Espanha e Marrocos.
"Não há desinteresse nem desatenção em relação ao povo saarauí, o que há é determinação para resolver um problema enquistado e sem perspetiva de solução", indicou.
Adiantou que Espanha é o principal doador da ajuda "aos acampamentos" de saarauís, que vai continuar a prestar apoio humanitário, mas que considera que o "conflito já condenou várias gerações" a viverem de forma precária.
Neste contexto, Sánchez pediu aos partidos políticos para "valorizarem a complexidade" do processo e para apoiarem a posição do Executivo.
No comunicado divulgado no passado dia 18, o Governo de Madrid anunciou o início de uma "nova fase" na relação com Marrocos, assente "no respeito mútuo, no cumprimento dos acordos, na ausência de ações unilaterais e na transparência e comunicação permanente".
Hoje, o debate político foi acompanhado pelo delegado da Frente Polisário em Espanha, Abdula Arabi e pela delegada da União Nacional de Mulheres Sarauís e da Frente Polisário na Comunidade de Madrid, Jadiyetu el Mokhtar.
O debate ocorre um dia antes da deslocação a Marrocos do ministro dos Negócios Estrangeiros, União Europeia e Cooperação espanhol, José Manuel Albares.
Segundo Sánchez, a visita de Albares a Rabat vai "pôr em marcha" uma nova relação, a reabertura de fronteiras, permitindo um plano que venha a garantir "a estabilidade e a prosperidade das cidades autónomas (espanholas)de Ceuta e Melilla".
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