Abdullah Arabi sublinhou também que os saarauís que vivem em campos de refugiados não querem "uma pátria alternativa" com Marrocos.
Em comunicado, o representante da Frente Polisário dirigiu-se a Sánchez, a quem reiterou o seu pedido para que Espanha "exerça as suas funções de poder administrativo, promovendo o exercício do direito à autodeterminação, ou, no seu defeito, que pelo menos não contribua ativamente a sua violação".
"O presidente do Governo de Espanha deve saber que parte do povo saarauí que vive nos campos de refugiados não tem como objetivo a procura de ajuda alimentar e muito menos uma pátria alternativa", indicou.
Abdullah Arabi recordou ainda que Espanha deve apostar "num acordo entre as partes" que supõe "a aplicação do Plano de Resolução de 1991, livremente assinado por Marrocos e pela Frente Polisário" sob os auspícios das Nações Unidas e da Organização da União Africana.
"Esse é o acordo que foi mutuamente negociado e aceite e que assenta no respeito pela vontade do povo saarauí expressa num referendo de autodeterminação", concluiu o presidente da Frente Polisário.
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, vai deslocar-se a Marrocos "o mais rapidamente possível", quando a sua agenda e a do Rei de Marrocos, Mohamed VI, permitirem, indicou hoje o ministro da Presidência.
Félix Bolaños disse hoje aos jornalistas que a data da viagem de Sánchez a Marrocos está a ser finalizada através dos "canais diplomáticos" e que se está à procura de uma data "o mais rapidamente possível".
O ministro espanhol da Presidência também comentou a suspensão da viagem a Marrocos do ministro dos Negócios Estrangeiros, José Manuel Albares, prevista para hoje, explicando que se devia ao convite que entretanto o rei marroquino fez a Pedro Sánchez para visitar o país.
Bolaños sublinhou que Madrid procura "iniciar uma nova relação com um país vizinho e dar estabilidade à fronteira sul de Espanha" e indicou que esta "nova etapa de colaboração, acordo e lealdade é uma etapa muito positiva".
"Começaremos a ver os frutos muito em breve", acrescentou o ministro espanhol da Presidência.
A deslocação do chefe do executivo espanhol a Marrocos está a criar muita expectativa, depois de Madrid ter mudado de posição em relação ao Saara Ocidental, uma antiga colónia de Espanha que está na lista das Nações Unidas de territórios não autónomos, e que é reclamada pelo movimento independentista Frente Polisário e cobiçado por Marrocos, que administra a maior parte do território.
Pedro Sánchez enviou em meados de março uma carta a Mohamed VI na qual afirmava que a proposta apresentada por Marrocos em 2007 defendendo a concessão de um estatuto autonómico ao Saara Ocidental era "a base mais séria, credível e realista para a resolução deste litígio".
Espanha, que ainda é considerada a potência administrativa colonial do Saara Ocidental desde que abandonou o território, em 1975, defendeu durante muito tempo que o controlo de Marrocos sobre o território era uma ocupação e que a realização de um referendo patrocinado pela ONU deveria ser a forma de decidir a descolonização do mesmo.
A alteração de posição do Governo espanhol tem sido criticada por todos os partidos espanhóis, excetuando o Partido Socialista (PSOE) de que Sánchez é o secretário-geral.
O parceiro do PSOE na coligação governamental minoritária, o Unidas Podemos (extrema-esquerda), também censurou o compromisso alcançado sem que Pedro Sánchez o tivesse informado previamente.
O primeiro-ministro espanhol defendeu na semana passada que o recente acordo alcançado com Marrocos sobre o futuro do Saara Ocidental garantia a soberania territorial dos dois países e lançava as bases para uma relação "muito mais sólida".
Madrid defende a sua mudança de posição sobre o Saara Ocidental, argumentando que o acordo alcançado com Marrocos é "equilibrado" para os interesses de ambos os países e que abre "uma nova etapa muito mais sólida" em termos de segurança, migrações, mobilidade e relações comerciais e económicas entre "parceiros estratégicos".
O executivo espanhol teria mudado de posição sobretudo devido a Ceuta e Mellila, dois enclaves espanhóis em território marroquino e reclamadas por este país. O compromisso sobre o Saara Ocidental poderia consolidar a posição de Espanha em relação a estas duas cidades autónomas.
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