Resultado da Frente Nacional em França é "altamente preocupante"
O antigo embaixador de Portugal em Paris Francisco Seixas da Costa considerou ontem "altamente preocupante" a subida do peso eleitoral da Frente Nacional em França e que "tem vindo a estruturar-se desde as eleições [presidenciais] de 2012".
© Lusa
Mundo Seixas da Costa
"Há vários meses que a perda de força do Partido Socialista e a possível ascensão da Frente Nacional estava em praticamente todas as previsões", afirmou à Lusa Seixas da costa, no dia em que o primeiro-ministro francês e o seu executivo se demitiram, na sequência da pesada derrota dos socialistas nas eleições municipais realizadas no domingo.
"Talvez a 'debacle' do Partido Socialista fosse algo surpreendente na sua dimensão, mas a sua derrota é normal", acrescentou.
Seixas da Costa salientou que "há manifestamente em certos setores de França, em particular no sul, no leste e no norte, a parte mais oriental da França, um aparecimento de núcleos muito fortes marcados pela crise económica e onde há emanações nazistas, xenófobas, bem claras".
O ex-diplomata pormenorizou que "há por vezes transferência direta de votos do antigo Partido Comunista para a Frente Nacional", que tem vindo a aumentar o seu peso desde que Marine Le Pen teve 17,8% nas presidenciais de 2012.
Trata-se de "pessoas que, perante o aumento do desemprego e em particular as questões de natureza securitária, tendem a refugiar-se numa lógica de maior autoridade e de policiamento mais forte".
Sobre eventuais consequências dos resultados eleitorais para a comunidade portuguesa, Seixas da Costa minimizou: "Em princípio não. A comunidade portuguesa está protegida pela legislação relativa aos cidadãos comunitários e, além do mais é vista, diria quase de forma unânime, como uma comunidade que se integrou muitíssimo bem na sociedade francesa".
A comunidade portuguesa não só "não é conflitual com os valores fundamentais, mesmo aqueles que são tradicionalmente mais ligados a uma ideia da França tradicional", como "o discurso da Frente Nacional é muito ligado a comunidades que têm uma identidade étnica e uma diferença em termos de matriz cultural muito contrastante com a vida dos franceses", justificou.
O ex-embaixador em Paris considerou ainda "uma surpresa" a dimensão da abstenção nestas eleições: "Não há tradicionalmente uma abstenção muito elevada. A vida política em França motiva muito os cidadãos a votar. Foi uma surpresa."
A explicação pode estar no "desencanto" das pessoas com os políticos.
"Traduz, de certo modo, algo que começa a verificar-se em muitos países europeus, que é um desencanto em relação à coisa política, às soluções que os políticos podem apresentar aos cidadãos, não acreditar nem na esquerda nem na direita. Esse é o sinal de um certo afastamento relativamente à questão política", justificou.
As eleições autárquicas, realizadas em duas voltas nos dois últimos domingos, foram marcadas por uma abstenção recorde, de cerca de 36,3%, e tiveram um balanço muito negativo para a esquerda, mas muito favorável para o centro-direita, que recuperou o terreno perdido em 2008, e um bom resultado para a Frente Nacional, de extrema-direita.
Segundo dados ainda provisórios do Ministério do Interior, o centro-direita obteve 45,1% dos votos, a esquerda 40,5%, a extrema-direita 6,85% e a extrema-esquerda 0,06 por cento.
O Presidente de França, François Hollande, anunciou hoje a nomeação como primeiro-ministro do atual ministro do Interior, Manuel Valls, em substituição de Jean-Marc Ayrault.
O Presidente de França, François Hollande, anunciou hoje a nomeação como primeiro-ministro do atual ministro do Interior, Manuel Valls, em substituição de Jean-Marc Ayrault.
A nomeação foi anunciada numa mensagem televisiva do chefe de Estado francês, um dia depois de uma pesada derrota do Partido Socialista francês nas eleições municipais, que levou Ayrault e o seu governo a demitirem-se.
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