"Após consultas iniciadas há pouco mais de três semanas com o ex-presidente Roch Marc Christian Kaboré, foi decidido que ele regressará esta quarta-feira, 06 de abril de 2022, à sua casa em Ouagadougou", a capital, disse o Governo, através de uma declaração emitida na quarta-feira à tarde.
A declaração indicava que estavam a "ser tomadas medidas para garantir a sua segurança", sem adiantar mais pormenores.
A junta militar no poder está a cumprir as repetidas exigências da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), que mais uma vez exigiu a libertação incondicional do antigo presidente numa cimeira extraordinária realizada no Gana em 25 de março.
O bloco de 15 nações solicitou uma redução do período de transição de três anos, proposto pela junta militar, para "um calendário mais aceitável" e deu às novas autoridades do país um mês, até 25 de abril, para fazerem uma nova proposta.
Após essa data, advertiu a CEDEAO, seriam impostas sanções económicas e financeiras, medidas que a organização tem até agora evitado na nação africana.
Os militares tomaram o poder após uma escalada de agitação social devido à insegurança gerada pela violência terrorista no país.
A junta confirmou o golpe na televisão estatal e anunciou que tinha deposto o Presidente Kaboré, que acabou por se demitir, além de outras medidas, tais como a dissolução do Governo e do parlamento e a suspensão da Constituição.
Em 05 de março, o líder do golpe e Presidente interino, o tenente-coronel Paul Henri Damiba, aprovou a nomeação de um Governo de transição após a assinatura de uma Carta de Transição, em 28 de fevereiro, a qual estabelece que os líderes do golpe governarão o Burkina Faso durante um período de transição de três anos.
De acordo com o documento, o presidente de transição, primeiro-ministro e presidente do parlamento não será autorizado a participar nas eleições gerais que deverão ter lugar no final do período de transição.
Burkina Faso, um país que faz fronteira com o Mali, Níger, Costa do Marfim, Togo e Benim, tem uma população de cerca de 20 milhões de pessoas e tem sofrido ataques terroristas desde 2015.
Os ataques, imputados a grupos aliados à Al-Qaida e ao Estado Islâmico, causaram mais de 1,5 milhões de deslocados internos, segundo o Governo.
O golpe do Burkina Faso é o quarto na região da África ocidental no último ano e meio, após dois no Mali (agosto de 2020 e maio de 2021), um país que também sofre a violência terrorista, um na Guiné-Conacri, em setembro de 2021, além de uma tentativa de golpe na Guiné-Bissau em 01 de fevereiro deste ano.
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