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Mali. Jornalistas criticam "mal-estar" face suspensão de media franceses

A principal associação de defesa da imprensa no Mali criticou hoje o "mal-estar geral" vivido na atividade jornalística desde a suspensão da France 24 e da Radio France Internationale (RFI) pela junta militar.

Mali. Jornalistas criticam "mal-estar" face suspensão de media franceses
Notícias ao Minuto

17:11 - 08/04/22 por Lusa

Mundo Mali

No dia 17 de março, os militares no poder em Bamaco decretaram a suspensão "até nova ordem" dos dois meios audiovisuais públicos franceses (direcionados para o estrangeiro), acusando a RFI de dar voz a supostas vítimas de abusos alegadamente cometidos pelo exército maliano e pela companhia de segurança privada russa Wagner.

A Casa da Imprensa, que reúne as principais associações de jornalistas do país, enviou uma nota ao ministro da Comunicação, Harouna Toureh, informando que, na sequência desta "decisão inédita", chegou "ao ponto de incitar os médias nacionais e estrangeiros" a terem "maior responsabilidade", procurando "apoiar as forças armadas e de segurança no nobre combate contra o terrorismo".

Contudo, a Casa da Imprensa notou ainda que a medida deu azo a um "mal-estar geral no seio dos profissionais" e a um receio de "não poder exercer a profissão de maneira conforme aos princípios éticos e deontológicos de um jornalismo sensível ao conflito".

Citado pela agência France-Presse, o texto enviado ao ministro abordou igualmente a "situação precária na qual se encontram os profissionais de comunicação malianos" que têm contrato com a RFI ou a France 24, lamentando o acesso reduzido da população às notícias veiculadas por estes meios franceses, muito populares no Mali, como em toda a África francófona.

O Presidente da Casa da Imprensa, Bandiougou Dante, declarou à France-Presse: "A nota surge num momento em que o ministério pede o nosso acompanhamento para fazer aplicar a medida de suspensão. Nós dissemos-lhe que já fizemos bastante na tomada de ação e na expressão do nosso apoio ao exército. As vozes malianas da oposição não são necessariamente apátridas".

Pouco depois da medida de suspensão dos médias franceses, as associações de jornalistas aprovaram a decisão do Governo, mas alguns profissionais de dentro da Casa da Imprensa criticaram abertamente aquilo que lhes pareceu um alinhamento desta com a posição do executivo, que nos últimos meses tem procurado exercer um maior controlo sobre os médias.

As autoridades malianas, dominadas pelos militares que chegaram ao poder via golpe de Estado em 2020, negam que o exército tenha atacado civis e, referindo-se às alegações de um massacre em Moura, refutam que se tratou apenas de uma operação antiterrorista.

A organização não-governamental de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) denunciou terça-feira que as forças armadas do Mali, juntamente com soldados estrangeiros -- identificados por várias fontes como russos -- executaram de forma sumária e em pequenos grupos, ao longo de vários dias no final de março, cerca de 300 homens.

Num comunicado, a HRW disse que a execução, que terá acontecido na cidade de Moura, no centro do Mali, é a pior atrocidade relatada há uma década no país africano, que enfrenta uma rebelião de extremistas islâmicos.

O exército do Mali confirmou, na sexta-feira à noite que tinha matado "203 combatentes" de "grupos terroristas armados" durante uma operação numa zona do Sahel, no centro do Mali, que decorreu entre 23 e 31 de março.

O embaixador francês na ONU também contradisse a versão maliana e sustentou que na operação "teriam morrido centenas de civis" e que "a violência teria sido cometida impunemente por soldados malianos acompanhados pelas forças russas da Wagner", referindo-se à empresa privada de mercenários que opera no Mali, embora o governo de Bamaco não o reconheça oficialmente.

Leia Também: ONU acusa Mal ide travar investigação sobre massacre de centenas de civis

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