Sulima Ishaq, chefe da Unidade de Combate à Violência contra as Mulheres, disse à agência espanhola Efe que a Procuradoria de Crimes contra o Estado abriu uma investigação criminal contra si por, alegadamente, ter dado informações sobre o caso para a missão das Nações Unidas no país.
"O Ministério Público de Crimes contra o Estado interrogou-me durante quatro horas à tarde, no âmbito de um processo penal, sobre uma queixa das autoridades", disse Ishaq, responsável daquela entidade, que faz parte do Ministério do Desenvolvimento Social.
O interrogatório, explicou, girou em torno do relatório apresentado, na semana passada, ao Conselho de Segurança da ONU pelo chefe da missão das Nações Unidas no Sudão, Volker Perthes.
Nele, Perthes referiu 16 casos de violação cometidos contra mulheres por elementos das forças da lei e da ordem durante manifestações contra as autoridades militares que levaram a cabo o golpe de Estado de outubro em Cartum e criticou a falta de resultados visíveis nas investigações destes crimes.
Ishaq, que deverá comparecer novamente perante o Ministério Público no próximo domingo, para receber um aviso ao qual deve responder, disse que todas as informações sobre as violações relatadas foram publicadas nos meios de comunicação locais e internacionais.
Além disso, confirmou também a alegação feita pela sua unidade, em dezembro passado, de que pelo menos oito mulheres tinham sido violadas por agentes de segurança nas proximidades do palácio presidencial durante uma manifestação, em 19 de dezembro.
O exército sudanês, que detém o poder no Sudão desde o golpe de Estado de 25 de outubro, foi acusado de levar a cabo uma dura repressão sobre as manifestações em curso que exigiam a constituição de um governo civil, na sequência da qual, segundo a oposição, mais de 90 pessoas morreram, a maioria delas devido a ferimentos de bala.
Além disso, o comandante-chefe do Exército e presidente do mais alto órgão de poder do Sudão, o general Abdel- Fatah al-Burhan, ameaçou, em 01 de abril, expulsar Perthes, que está a tentar mediar uma saída para a crise política gerada pela revolta no país, por considerar que este está a "interferir nos assuntos internos sudaneses".
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