Em crianças, fugiram da Alemanha nazi. Agora, em idosas, tiveram de fugir da guerra e do terror pela segunda vez nas suas vidas. Foram retiradas da sua Ucrânia natal e encontraram paz num local que nunca quiseram pisar. Em Berlim.
Se antes fugiram dos alemães, foram, desta vez, os russos que as obrigaram a deixar tudo para trás. Para escaparem dos ataques e bombardeamentos levados a cabo pelas tropas de Vladimir Putin, Sonya Leibovna Tartakovskaya, de 83 anos, natural de Irpin, e Alla Ilyinichna Sinelnikova, de 90 anos, de Kharkiv, foram retiradas da Ucrânia e levadas para a Alemanha.
À NPR, Tartakovskaya conta que, "durante 20 dias", viveu "sem gás, água ou eletricidade". "Quando a guerra começou, pesava 45 quilos - o meu peso normal. Quando aqui cheguei, pesava quase metade", sublinha.
Já Sinelnikova nunca pensou que "pela segunda vez" na sua vida tivesse de passar por tudo isto. "Nunca pensei que viveria para ver tamanho horror pela segunda vez na minha vida. Pensei que tinha tudo ficado no passado, tudo acabado. E agora estamos a reviver isto", destaca.
Ao canal, a idosa explica ainda que tinha apenas nove anos quando teve de fugir de Kharkiv pela primeira vez. Ela e a sua família foram levados para Sverdlovsk, na Rússia, para fugir dos nazis e, neste momento, custa-lhe acreditar que foram os alemães que lhe deram um porto seguro: "É um paradoxo estranho".
Os mais idosos e vulneráveis são encaminhados de ambulância para residências em Berlim onde o staff fala ucraniano ou russo. Rüdiger Mahlo, da Jewish Claims Conference, uma associação sem fins lucrativos que ajuda os sobreviventes do Holocausto, assume que muitas pessoas recusam ir para a Alemanha devido ao passado. "Existe uma 'retraumatização'", refere.
Para estes, estão a ser orquestradas alternativas que, de acordo com a reportagem, passam pela Polónia, Roménia ou até Israel.
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