Confrontos tribais fazem 160 mortos no Darfur
Pelo menos 160 pessoas foram mortas hoje em resultado de confrontos no Darfur, no que é um dos balanços mais pesados de incidentes de violência nesta região do Sudão ocidental, devastada por décadas de guerra, informou uma ONG.
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Mundo Darfur
A violência começou em Krink, a 80 km de El-Geneina, a capital do Darfur Ocidental, na sexta-feira, em confrontos que resultaram na morte de oito pessoas segundo Adam Regal, porta-voz da Coordenação Geral para Refugiados e Deslocados no Darfur, uma organização não-governamental (ONG) local.
De acordo com a mesma fonte, o número de mortos pode vir a aumentar, uma vez que 46 pessoas ficaram feridas.
Um líder tribal Massalit local relatou ter visto cadáveres em várias aldeias na área de Krink e o Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) instou as autoridades a garantir o transporte seguro dos feridos para os hospitais da área.
Segundo a Coordenação Geral, a violência começou quando combatentes armados de tribos árabes atacaram aldeias Massalit, uma minoria étnica africana, em retaliação pela morte na quinta-feira de dois dos membros da tribo árabe Rzeigat.
"Dois homens armados numa mota" mataram dois homens das tribos árabes na quinta-feira e depois fugiram para as aldeias Massalit, disseram os líderes dos Rzeigat.
Vídeos e fotografias afixados online mostram colunas de fumo negro a sair de casas e extensões de terra queimada onde anteriormente existiam cabanas tradicionais.
A autenticidade destas imagens não pôde ser verificada de forma independente.
Dezenas de casas foram queimadas e muitas famílias fugiram para o norte, acrescentou a mesma fonte.
De acordo com a Coordenação Geral para Refugiados e Deslocados no Darfur, as milícias Janjaweed da maioria árabe - muitas das quais se juntaram às temidas Forças de Apoio Rápido, uma milícia paramilitar comandada pelo segundo homem mais forte do Sudão, general Mohamed Hamdan Daglo - orquestraram o ataque de sexta-feira.
Krink e aldeias vizinhas sofrem de um "bloqueio económico imposto pela milícia Janjaweed", para além de "ameaças" e "pilhagens" recorrentes, segundo Adam Regal.
Dezenas de pessoas foram mortas e centenas de casas queimadas em vários episódios de violência em Darfur nos últimos meses, de acordo com as Nações Unidas.
Confrontos entre pastores árabes e agricultores africanos por disputas de terra ou acesso à água mataram quase 250 pessoas entre outubro e dezembro últimos na região, de acordo com um sindicato de médicos pró-democracia.
A região tem sido devastada por uma guerra civil que começou em 2003 entre o regime da maioria árabe e insurgentes de minorias étnicas que alegavam discriminação.
Cerca de 300.000 pessoas morreram e quase 2,5 milhões foram deslocadas durante os primeiros anos de violência, de acordo com a ONU.
O Sudão, que em 2019 emergiu de 30 anos de ditadura sob o regime de Omar al-Bashir, foi palco de um golpe de Estado em 25 de outubro último, que interrompeu o processo de estabelecimento de um governo civil para o período de transição até à realização de eleições.
Militares e civis tinham acordado um calendário para um processo de transição na sequência do derrube do regime de al Bashir em 2019, segundo o qual os generais deviam ter cedido a condução desse processo a meio do período de transição inicialmente estimado, mas golpe militar liderado pelo general Abdel-Fattah al-Burhan, consumou uma "correção do curso da revolução", segundo o próprio.
Al-Burhan estendeu o seu próprio mandado enquanto chefe das autoridades de transição até à realização de eleições, que prometeu para julho de 2023.
No Darfur, o vácuo de segurança criado pelo golpe de al-Burhan está na origem do ressurgimento da violência.
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