Presidenciais. Subida de Marine Le Pen amarga vitória de Macron
Marine Le Pen perdeu, como esperado, a segunda volta das eleições presidenciais para Emmanuel Macron, mas conseguiu um resultado histórico para a extrema-direita, sinal das clivagens crescentes no eleitorado francês.
© Getty Images
Mundo presidenciais em França
Nem o cenário da Torre Eiffel, nem a música serviram para criar um ambiente de euforia em torno do discurso de vitória de Macron, proferido quando as projeções apontavam para uma vitória em torno dos 58%, cerca de 15 pontos percentuais à frente de Le Pen.
E, por entre agradecimentos aos seus apoiantes, o presidente reeleito dirigiu-se em particular aos que votaram contra si, cujas "dificuldades" prometeu levar em conta.
"A partir deste momento já não sou o candidato de um campo, sou o Presidente de todos. Sei que para muitos dos nossos compatriotas que hoje escolheram a extrema-direita, a raiva e o desacordo que os levaram a votar pela extrema-direita deve encontrar uma resposta. É essa a minha responsabilidade", disse Macron no seu discurso de vitória, num ambiente longe da euforia de há cinco anos.
Segundo resultados oficiais parciais, quando estão apurados 87% dos votos dos eleitores inscritos, Macron lidera com 56,10% dos votos, contra 43,90% de Marine Le Pen.
Em 2017, a primeira vez que se enfrentaram os dois candidatos que hoje voltaram a medir forças nas eleições presidenciais, o centrista Emmanuel Macron venceu com 66,10% dos votos, contra 33,90% de Marine le Pen, ou seja com uma vantagem significativamente mais clara do que nas eleições de hoje.
Esta subida permitiu a Marine Le Pen, 'cantar vitória' no seu discurso de derrota, no Pavilhão d'Armenonville, no nordeste de Paris.
"Com mais de 43% dos votos, o resultado desta noite representa uma vitória esmagadora. Milhões de compatriotas escolheram o campo nacional e da mudança", afirmou a candidata, que tinha no palco três bandeiras francesas colocadas à sua direita.
Para aqueles que esperavam que a sua derrota se traduzisse num afastamento da liderança da extrema-direita, Le Pen prometeu aos "franceses que manifestaram o desejo de um contrapoder forte face a Emmanuel Macron", trabalhar para "uma oposição que vai continuar a defendê-los e a protegê-los face à erosão do seu poder de compra, face aos ataques às suas liberdades".
"Por isso, para evitar a tomada do poder por alguns, agora, mais do que nunca, irei continuar com o meu compromisso para com a França e com os franceses, com a energia, a perseverança e a afeição que me conhecem", afirmou Le Pen, com a sala do pavilhão d'Armenonville a responder com uma grande ovação, aplausos e gritos de "Marine, Marine, Marine".
Focou as eleições legislativas, de 12 e 19 de junho, para sublinhar que "o jogo ainda não acabou" e que irá "liderar esta grande batalha" eleitoral.
"O resultado histórico desta noite coloca o nosso campo numa posição excelente para elegermos vários militantes em junho. (...) Esta noite, volto a dizê-lo: nunca abandonarei os franceses", concluiu Le Pen.
Os resultados parciais indicam que a abstenção recorde atingiu os 26,97 por cento, abaixo do estimado pelo instituto de sondagens Ifop, mas ainda assim uma taxa inédita para uma segunda volta desde 1969 (31,3%).
E foi recorrendo à abstenção que o líder da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon, desvalorizou a vitória de Emmanuel Macron, também já a pensar nas próximas eleições.
"Macron é o presidente escolhido pior na Quinta República. Ele nada num oceano de abstenção, votos brancos e nulos", reagiu Mélenchon minutos depois de saber as primeiras projeções.
Considerando a derrota de Marine Le Pen "uma boa notícia para a unidade do país", Mélenchon manifestou-se concentrado nas eleições para a Assembleia Nacional em junho, nas quais pretende liderar uma coligação de partidos de esquerda e ambientalistas.
"A terceira volta começa hoje à noite. Você pode derrotar Macron e escolher outro caminho se der a maioria de deputados à União Popular (partido de Mélenchon), que deve ser ampliada", acrescentou.
Macron, 44 anos, será o primeiro Presidente francês em 20 anos a ganhar um segundo mandato, desde Jacques Chirac em 2002.
Com os resultados a encaixarem nas sondagens, afastando o cenário temido da repetição de vitórias surpresa como a de Donald Trump nas eleições norte-americanas em 2016, os líderes da União Europeia (UE) foram rápidos e efusivos a festejar a reeleição de Macron frente a uma candidata anti-UE e que no passado expressou a sua admiração por Vladimir Putin, e que ameaçava romper o consenso em torno da invasão da Ucrânia.
"Estou ansiosa para continuar a nossa excelente cooperação. Juntos, avançaremos com a França e a Europa", afirmou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
"Nestes tempos turbulentos, precisamos de uma Europa forte e de uma França totalmente comprometida com uma UE mais soberana e estratégica", escreveu Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, no Twitter.
Sinal da força do 'eixo' Paris-Berlim, o chanceler alemão Olaf Scholz foi o primeiro dirigente estrangeiro a falar com Macron após a vitória deste na segunda volta das presidenciais francesas.
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